A Fapemig apoia projetos científicos de diversas áreas do conhecimento, tanto em instituições públicas quanto em empresas privadas (Foto/Chokniti Khongchum/Pexels/Reprodução)
Para transformar ciência em avanço do conhecimento e também em novos produtos e soluções, pesquisadores demandam recursos que são, muitas vezes, milionários. Para atender à demanda, neste ano a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) dobrou o valor de um de seus principais editais de pesquisa e, nesta quarta-feira (26/02), anunciou a abertura de recursos de R$ 110 milhões.
O volume é dividido entre dois editais. São R$ 90 milhões para a chamada Demanda Universal, para projetos de áreas diversas do conhecimento — em 2024, foram R$ 45 milhões. Uma das faixas de financiamento é para pesquisadores jovens, aqueles que concluíram o doutorado a partir de 2015.
“Nós os disputamos com o mundo. Hoje, nós sofremos um problema: nossos jovens mais bem formados estão indo para o mundo, que tem escassez de gente qualificada. Minas é uma fonte, não só para outros estados brasileiros, especialmente São Paulo, mas para o mundo inteiro. Canadá, Portugal e outros países estão atraindo jovens mineiros bem qualificados”, pontua o presidente da Fapemig, Carlos Arruda. “Se você olha quando um prêmio Nobel criou um projeto que, muitos anos depois, o premiou, foi quando ele tinha 30, 40 anos. Ele recebeu o prêmio aos 60, mas desenvolveu sua pesquisa antes. Precisamos fazer o mesmo ciclo”.
Os outros R$ 20 milhões em recursos são para unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), centros de estudo de aplicações da ciência na indústria. São instituições de desenvolvimento de inovação que utilizam recursos públicos e também privados. Um exemplo é o Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno da Universidade Federal de Minas Gerais (CTNano/UFMG). Ele pesquisa materiais extremamente pequenos com propriedades de melhorar produtos já existentes — o diâmetro de um nanotubo de carbono é 100 mil vezes menor do que o de um fio de cabelo.
A coordenadora do centro, Glaura Goulart Silva, explica a importância da tecnologia. “Os grafenos, nanotubos de carbono e nanomateriais diversos são materiais que podem aprimorar vários produtos finais de interesse premente da sociedade. Por exemplo, um revestimento protetivo à corrosão. A corrosão é um problema crítico da sociedade, que causa perdas enormes do PIB. Revestimentos em que se introduz grafeno podem fazer a corrosão de tintas, por exemplo, ser várias vezes menor. Temos também produtos como eletrodos para baterias de lítio. Os nanomateriais são utilizados em baterias que nos permitem ter mais eficiência energética e mais potência para, nos carros elétricos, permitir uma autonomia muito superior”.
A Fapemig também apresentou outros editais de financiamento que planeja abrir ainda no primeiro semestre. Um deles, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é específico para o agro, com aporte para pesquisas que combatam o greening, praga da laranja que ameaça plantações de Minas e São Paulo com prejuízos milionários. Em outra frente, um edital convidará pesquisadores brasileiros que hoje trabalham no exterior a visitar e contribuir com grupos de pesquisa no Brasil.
Uma série de pesquisas apoiadas pela Fapemig entrega frutos em Minas — algumas vezes, literalmente. É o caso de estudos com o cacau realizados por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) no Norte do estado. “Minas ainda não é um estado relevante na produção de cacau, mas será. Podemos chegar a ser o segundo, terceiro maior estado produtor de cacau do Brasil. E a produção era zero”, projeta o presidente da Fapemig, Carlos Arruda.
Os pesquisadores e grupos de pesquisa interessados nas linhas de financiamento da Fapemig devem procurar o site da instituição e submeter seus projetos. Eles são, então, avaliados por uma banca técnica, que decide quais serão os selecionados.
Fapemig completa 40 anos
Em 2025, a Fapemig, fundada em 1985, completa 40 anos. Neste ano, os recursos do governo do estado destinados a ela somam quase R$ 543 milhões, parte de uma linha ascendente desde 2022. A determinação constitucional é que a fundação receba 1% da despesa orçamentária corrente do Estado.
O subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Minas, Lucas Mendes, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), reforça a relevância da ciência para o avanço econômico e social. “Desse orçamento que é investido, são vários players que podem captar recursos, desde universidades até as empresas. Quando falamos de inovação nas empresas, falamos na possibilidade de gerar mais receita, aumento da competitividade, geração de emprego e renda mais qualificada. Quando tratamos das universidades, falamos de pesquisas que podem gerar novos produtos e processos e também colocar Minas Gerais na vanguarda do próprio conhecimento. O mineiro se beneficia direta e indiretamente”, conclui.
Fonte: O Tempo