A inadimplência voltou a pressionar Minas Gerais e alcançou um dos níveis mais altos da série recente. Dados da Serasa, referentes a outubro, revelam que 7,75 milhões de mineiros acima de 18 anos estão com o CPF negativado, o equivalente a 46% da população adulta do estado.
Entre janeiro e outubro, o contingente de endividados cresceu 8,6%, saltando de 7,13 milhões para o patamar atual. Só entre setembro e outubro, cerca de 164 mil pessoas foram incluídas na lista de devedores, uma expansão de 2% em apenas um mês.
Especialistas apontam que o avanço é resultado de uma combinação de fatores econômicos e comportamentais. Os juros elevados, a perda de renda real, o crédito cada vez mais restrito e a falta de planejamento financeiro têm pressionado o orçamento das famílias e travado a retomada do consumo. Para a economista Diana Chaib, da UFMG, o cenário atinge em cheio o comércio e especialmente os pequenos negócios, mais vulneráveis ao calote. Ela destaca que a inadimplência elevada “trava o giro da economia e inibe o investimento”.
Para além do cenário macroeconômico, o comportamento dos consumidores também agrava o problema, segundo a analista Karla Pontes, da Serasa. Ela afirma que muitos seguem gastando acima do que recebem e recorrem ao crédito para despesas básicas, o que, com juros altos, rapidamente se transforma em uma “bola de neve”.
Apesar de pequenas quedas registradas em abril e setembro, economistas avaliam que foram movimentos pontuais, impulsionados por entradas de renda extra, como restituições de imposto de renda e benefícios temporários. Esses respiros, no entanto, não conseguiram alterar a tendência de alta ao longo do ano.
O avanço do número de negativados tem impacto direto no consumo e no crédito: dificulta renegociações, reduz a concessão de empréstimos e limita a compra de bens duráveis, como veículos e eletrodomésticos. Para o setor produtivo, o reflexo aparece na queda das vendas e na maior cautela de bancos e varejistas.
Analistas avaliam que a estabilização deve ocorrer de forma lenta e sem perspectiva de recuo consistente no curto prazo. A reversão do quadro depende de melhora da renda, redução dos juros ao consumidor e de programas mais amplos de renegociação voltados a famílias em situação mais vulnerável.