CINEASTA

Os processos de produção de um documentário e obras de Celina Torrealba

Publicado em 06/08/2024 às 08:07
Compartilhar

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

O cinema documentário é um instrumento único de expressão artística com poder para motivar, informar e desafiar conceitos estabelecidos. Como esse tipo de obra cinematográfica permite que cineastas mergulhem em histórias não-descobertas, esclarecendo novos pontos de vista e dando voz a narrativas marginalizadas de maneira particular, o processo de criação de documentários pode ser variado, mas costuma incluir três grandes etapas: a pré-produção, a produção, e a pós-produção.

Neste artigo, estão explicados alguns dos processos de produção de obras documentais, sob a perspectiva de Celina Borges Torrealba Carpi, documentarista experiente, fundadora da Donna Features e produtora de longas como “O Farol” e “Wasp Network — Prisioneiros da Guerra Fria”. Além disso, são mencionadas algumas obras com assinatura de Celina Torrealba, que nos últimos anos vem contribuindo com o campo do cinema documentário e elevando a indústria brasileira ao nível de reconhecimento internacional.

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Celina Torrealba e suas produções

Uma produtora e documentarista brasileira que se debruça sobre temáticas relacionadas à identidade e ancestralidade, Celina Torrealba tem uma extensa filmografia que a posiciona como especialista na arte do documentário. Através da sua produtora Donna Features, Celina Torrealba trabalhou em obras como “Criando Campeões” (2022), “Cheiro de Vida” (2023), “Arte da Diplomacia” (2023), já lançadas, e muitas outras em produção.

Essa experiência obtida através do trabalho com a Donna Features vem imbuindo Celina Torrealba com conhecimento prático sobre os processos produtivos da criação de documentários. Suas obras, muitas das quais tratam de temáticas culturais e políticas, são meticulosamente produzidas por uma equipe capacitada, e já figuraram em festivais de renome internacional.

Donna Features (Foto/Divulgação)

Donna Features (Foto/Divulgação)

Além das criações no campo documental, Celina Torrealba e a equipe da Donna Features também têm atuado com ficção, o que demonstra a versatilidade e adaptabilidade da produtora. Desde o seu estabelecimento, a Donna Features trabalhou como parceira em longas-metragens de reconhecimento internacional, como “O Farol” (2018), coproduzido com a A24, “Port Authority” (2019), com Rodrigo Teixeira, e “Wasp Network — Prisioneiros da Guerra Fria” (2019), dirigido por Olivier Assayas.

O processo de produção de um documentário

Existem três grandes fases no processo de produção de um documentário: pré-produção, produção e pós-produção. Cada etapa desempenha um papel fundamental na concepção, realização e polimento final da obra cinematográfica, representando uma sinergia entre a criatividade, planejamento estratégico e habilidades técnicas.

1. Pré-produção

Antes das filmagens começarem, a fase de pré-produção estabelece os alicerces fundamentais para o sucesso do documentário. Durante essa etapa de organização e planejamento, que é uma das mais desafiadoras do processo de criação do documentário, a precisão reina. Decisões são tomadas com o objetivo de garantir uma produção eficiente e sem contratempos.

Pesquisa e desenvolvimento de ideias

Na fase inicial de produção de um documentário, a pesquisa e o desenvolvimento de ideias têm uma função importante que ajuda a delimitar o tema e a história a ser contada no projeto.

Uma dica de Celina Torrealba para encontrar a história do documentário é buscar inspiração em outros documentários, livros, obras de arte e notícias sobre a temática em questão. Isso também pode envolver o estudo da literatura existente, entrevistas com especialistas e visitas a locais relacionados ao assunto. Durante esse processo de delimitação da história, cineastas procuram refinar sua visão e estabelecer o foco do documentário.

Roteirização

Com as ideias e temas principais definidos, o próximo passo costuma ser a elaboração do roteiro. Nesse momento da pré-produção, documentaristas delineiam a estrutura geral, os personagens principais, as cenas e sequências-chave, geralmente em um documento de duas colunas.

“A roteirização, contudo, nem sempre é implementada, já que cada cineasta tem uma perspectiva diferente sobre a própria definição do gênero. Isso porque o roteiro é inerentemente um recurso ficcional que não é tão bem aceito entre documentaristas que assumem o documentário como o ‘cinema do real’, por exemplo”, explica Celina Torrealba. Criadores que têm uma visão mais flexível, percebendo o documentário como registro do mundo em que se vive, são mais propensos à criação de um roteiro.

Planejamento financeiro e logístico

Ainda na pré-produção, é importante garantir os recursos necessários para dar vida ao projeto, como equipamentos audiovisuais e recursos financeiros, humanos e logísticos. É possível buscar financiamento por meio de diferentes fontes, como financiamento privado, subsídios governamentais ou plataformas de crowdfunding.

“Na fase de pré-produção, o cineasta também pode planejar os detalhes logísticos da produção, como a seleção de locais, o agendamento das entrevistas, a contratação de equipe técnica e a obtenção de autorizações necessárias. Essa fase é indispensável para garantir que a produção transcorra sem problemas,” conta a documentarista Celina Torrealba.

2. Produção

Na etapa de produção de um documentário, as ideias concebidas na fase de pesquisa ganham vida diante das câmeras. Esse é um período de intensa atividade criativa, onde a visão do cineasta se manifesta através de composições visuais e narrativas dinâmicas.

Realização de entrevistas

Muitos documentários incluem entrevistas, pois elas permitem a captura das vozes e perspectivas dos personagens envolvidos na história. Durante essa fase, documentaristas planejam as perguntas a serem feitas, com o objetivo de obter informações valiosas e relevantes para a obra. A escolha dos entrevistados também é crucial, pois são eles que darão vida às narrativas e oferecerão uma visão íntima dos eventos ou questões abordadas.

Em “Criando Campeões”, por exemplo, Celina Torrealba traz diversas entrevistas gravadas com as funcionárias da Fazenda Three Chimneys. Essas conversas são importantes para ilustrar a temática principal do documentário, que é a inserção das mulheres no contexto majoritariamente masculino da criação de cavalos puros-sangues. Com isso, a documentarista traz autoridade para a obra, dando voz ao grupo cuja história está sendo contada e um canal direto entre esse grupo e o espectador.

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Obtenção de recursos audiovisuais

A obtenção de recursos audiovisuais é indispensável para a produção de documentários, pois fornece os materiais necessários para contar a história de forma impactante. Isso pode incluir imagens de arquivo, áudios, vídeos de fontes externas, animações e outros elementos audiovisuais que enriquecem a narrativa do filme.

Em “Cheiro de Vida”, por exemplo, uma obra de ancestralidade produzida por Celina Torrealba e pela Donna Features, foram usados arquivos de família, jornais e registros da década de 1920 para contar a história da vida e morte do poeta e escritor Ernesto Torrealba.

Captação de imagens e som

A captação de imagens e som é uma das etapas mais visíveis e intensivas na produção de documentários. Durante essa fase, cineastas se concentram em registrar cenas e eventos relevantes que contribuam para a narrativa geral do filme. Isso pode incluir filmagens de locais, eventos significativos e ações dos personagens envolvidos na história. Além da imagem, a qualidade do som é igualmente importante, garantindo que o diálogo e os sons ambiente sejam claramente capturados.

“Documentaristas devem estar atentos à composição visual, à iluminação e à estabilidade da câmera para assegurar que as imagens captadas sejam atraentes e transmitam a mensagem desejada,” explica a cineasta Celina Torrealba, produtora de “Wasp Network — Prisioneiros da Guerra Fria” e “O Farol”. Essa fase requer uma equipe técnica habilidosa e bem coordenada para que todas as cenas sejam registradas com sucesso e dentro dos padrões de qualidade exigidos.

3. Pós-produção

Após a conclusão das filmagens, a fase de pós-produção é o momento em que o material bruto é transformado em uma narrativa coesa e envolvente. A depender do trabalho feito na pré-produção e produção, o processo de pós-produção pode ser mais ou menos complicado. Ele inclui o refinamento criativo, onde cada ajuste contribui para a narrativa final do documentário, preparando-o para o público.

Edição de áudio e vídeo

A edição de áudio e vídeo é uma das etapas mais complexas da elaboração de um documentário. Aqui, o material bruto captado durante as filmagens é refinado e lapidado para criar uma narrativa coesa e envolvente. Os editores trabalham para selecionar as melhores cenas, cortar segmentos desnecessários e ajustar a sequência para assegurar o fluxo narrativo desejado.

Além disso, eles também se dedicam à correção de cores, ajustes de exposição e aprimoramento visual para garantir a qualidade técnica do produto final. Paralelamente, os engenheiros de som trabalham na mixagem e equalização do áudio, certificando-se de que o diálogo seja claro, os efeitos sonoros sejam impactantes e a trilha sonora se integre perfeitamente à narrativa.

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Celina Torrealba (Foto/Divulgação)

Distribuição

Após a conclusão da pós-produção, o próximo passo é a distribuição do documentário para o público-alvo. Esta fase envolve a seleção da plataforma de distribuição mais adequada, que pode variar de festivais de cinema a plataformas de streaming online ou canais de televisão. Os cineastas podem optar por lançamentos em cinemas selecionados ou distribuição digital, dependendo da estratégia de alcance e das metas do projeto.

Os festivais de cinema são uma vitrine interessante de divulgação de documentários. “Arte da Diplomacia”, por exemplo, dirigido por Zeca Brito e produzido pela Donna Features, de Celina Torrealba, foi exibido na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ocorrida em outubro de 2023, e ganhou bastante visibilidade com esse feito.

Através da lente da experiência de Celina Torrealba e de sua produtora Donna Features, foram explicados os intricados estágios de produção que culminam na criação de um documentário. Em cada etapa, Celina Torrealba e sua equipe demonstram um compromisso inabalável com a excelência e uma paixão por contar histórias que ressoam além das telas, moldando assim não apenas a indústria cinematográfica brasileira, mas também o diálogo cultural em escala global.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por