Antes de João Pedro, que hoje tem 2 anos, Priscila perdeu dois filhos (Foto/Flavio Tavares/O Tempo)
A prematuridade é a maior causa de mortalidade infantil no Brasil. No ano passado, 15.740 bebês morreram por problemas relacionados ao nascimento precoce, cinco vezes mais do que as mortes por pneumonia, que vêm em segundo lugar. Os dados são do Painel de Monitoramento da Mortalidade Infantil e Fetal, do DataSUS. Por trás dessas estatísticas nem sempre é possível identificar uma causa exata. “A prematuridade é uma realidade multifatorial, é complexa e é social”, destaca Teresa Ruas, Fundadora da Associação de Cuidado Integral à Prematuridade (ACIP) e mãe de dois prematuros.
Embora não existam causas específicas, alguns fatores podem aumentar o risco de o bebê nascer antes de 37 semanas de gestação. De acordo com a especialista, isso pode acontecer quando a mãe tem histórico de parto prematuro dela ou na família, gravidez múltipla (como gêmeos), má nutrição durante a gestação, ausência de cuidados pré-natais regulares, infecções, utilização de tecnologia de reprodução assistida (como fertilização in vitro) e hipertensão arterial.
“As gestações nos extremos da idade reprodutiva da mulher também são fatores de risco. Então, mulheres abaixo de 18 anos e acima dos 40 têm mais chance de ter bebês prematuros”, acrescenta Teresa Ruas, que também é terapeuta ocupacional.
A pediatra neonatologista e diretora administrativa da Neocenter Maternidade, Tilza Tavares, destaca que algumas doenças desenvolvidas durante a gravidez também podem provocar o parto prematuro. “Tem um quadro que é chamado de ‘pré-eclâmpsia’, quando a pressão arterial da gestante aumenta. E tem ainda o diabetes gestacional. Os hábitos também influenciam, como o tabagismo”, explica Tilza.
Priscila Ramos teve duas gestações. Em ambos os casos, ela sabia que se enquadrava em pelo menos dois fatores que aumentam o risco de um parto prematuro: hipertensão e inseminação artificial. Na primeira gravidez, quando ela estava com 20 semanas, fez um ultrassom e viu que o filho, Pedro Luís, não estava crescendo. “O obstetra me explicou a condição dele, falou da possibilidade de ele nascer prematuro e disse que a chance de sobrevivência era pequena. A maior probabilidade seria de ele nascer e eu conhecer e me despedir dele na mesma hora. Chorei muito. Tudo isso fez minha pressão subir ainda mais”, lembra Priscila.
A chegada
Com 25 semanas, Pedro Luís nasceu. Ele pesava 415 g e media 29 cm “Era muito pequeno. Ao contrário da maioria das mães nessa situação, quando cheguei na UTI neonatal para vê-lo, estava sorrindo, porque a expectativa era de ele não sobreviver. Além de todos os tubos, onde tinha muita dor, eu senti alívio e enxerguei esperança. Olhei para ele e disse: ‘Mamãe te ama’”, recorda Priscila.
Após sete meses de internação, Pedro Luís foi para casa, com oxigênio portátil e uma estrutura de home care. “Ele não teve sequelas neurológicas. A questão era respiratória, o pulmão exigia muitos cuidados. Ele ficou conosco por um ano e meio”, conta a mãe.
Nova gestação
Um ano e meio depois da morte de Pedro Luís, Priscila fez uma nova inseminação e engravidou de novo. Desta vez, de gêmeos, mais um fator que aumenta o risco de nascimento prematuro. “Quando fiz o ultrassom morfológico, o João Pedro estava ótimo, mas o Davi Luís não estava crescendo. Infelizmente, com 31 semanas de gestação, ele partiu. De novo, aquela dor de perder um filho, mas eu precisava ser forte, porque eu tinha mais um que precisava de mim”, detalha Priscila.
O parto aconteceu três semanas depois. “Eu me despedi do Davi. O João Pedro ficou dez dias na UTI, tomando corticoide para amadurecer o pulmão. Mas logo ele ficou só com o oxigênio. E, pela primeira vez, eu amamentei um filho”, desabafa ela.
No dia 18 de julho deste ano, João Pedro completou 2 anos. Ele está ótimo. “Às vezes, quando ele está dormindo, eu olho e vejo o tamanho que está, a esperteza dele e agradeço por tê-lo comigo. E eu não penso em ser a melhor mãe do mundo, mas eu quero ser a melhor mãe para ele”, diz Priscila.
Fonte: O Tempo