Estudo mostra que diminuição também economizaria R$ 2,1 bilhões em perdas de produtividade
Um estudo realizado pela Fiocruz em parceria com a Vital Strategies revelou que a redução de 20% no consumo de álcool no Brasil evitaria mais de 10 mil mortes por ano. A estimativa é que o Brasil tenha registrado 102,3 mil óbitos relacionados ao consumo de bebidas alcoôlicas em 2019, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O trabalho, desenvolvido como parte do programa "RESET Álcool" em colaboração com a ACT Promoção da Saúde, analisou 24 doenças e condições associadas ao consumo de bebidas alcoôlicas. Os pesquisadores estabeleceram relações entre a quantidade consumida e os riscos para a saúde, utilizando informações do estudo de Carga Global da Doença.
A pesquisa apontou que a economia brasileira perde R$ 20,6 bilhões anualmente devido às mortes associadas ao álcool. Com a redução de 20% no consumo, o país também economizaria R$ 2,1 bilhões em perdas de produtividade, valor equivalente a 58% do orçamento de 2024 do "Farmácia Popular, um dos principais programas de acesso a medicamentos no Brasil.
"Na próxima etapa do estudo, vamos atualizar nosso cálculo para incluir os custos diretos do consumo do álcool, ou seja, o valor gasto pelo nosso sistema de saúde. No primeiro estudo, feito em 2024, esses custos superam R$ 1 bilhão por ano, apenas com custos federais diretos com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS). Com essa estimativa atualizada, também calculamos a possível economia para o SUS caso os cenários de redução de consumo de álcool de 20% ou 10% sejam colocadas em prática no país", afirmou o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/Universidade de São Paulo), Eduardo Nilson, em comunicado.
Em 2019, aproximadamente 12 pessoas morreram por hora no Brasil devido a causas relacionadas ao consumo de álcool. As vítimas são principalmente indivíduos em idade produtiva, com menos de 70 anos, o que impacta diretamente a economia, as famílias e o sistema de saúde.
O estudo se baseia na recomendação da OMS para reduzir o consumo de álcool em 20% até 2030, mas aponta que mesmo uma redução menor, de 10%, poderia salvar cerca de 5 mil vidas anualmente e diminuir as perdas econômicas em R$ 1 bilhão.
"Os custos indiretos por mortes prematuras – de indivíduos com menos de 70 anos de idade – relacionadas ao consumo de álcool representam perdas econômicas associadas à interrupção precoce da vida de pessoas em idade produtiva. Isso inclui a perda de produtividade no trabalho, o impacto na renda familiar e na economia como um todo", explicou Nilson.
O levantamento foi realizado em 2024 e publicado este ano, abrangendo todo o território nacional e analisando o impacto do consumo de álcool na população brasileira.
"Mensurar e trazer visibilidade a esses impactos é especialmente importante em um momento em que o Brasil está prestes a colocar em pauta a definição das alíquotas do imposto seletivo sobre o álcool. Se forem estabelecidos percentuais suficientemente altos, será possível diminuir o consumo, nos aproximando da meta estabelecida pela OMS. Como consequência, podemos reduzir adoecimentos, acidentes, violências, mortes e sofrimento, além de aliviar todo o impacto negativo nos nossos sistemas de saúde, na previdência social e na economia como um todo", afirmou a diretora adjunta de Doenças Crônicas não Transmissíveis da Vital Strategies, Luciana Vasconcelos Sardinha.
Para alcançar as metas de redução, os especialistas recomendam a implementação do pacote "SAFER" da OMS, que inclui restrições à disponibilidade, controle da publicidade, fortalecimento dos sistemas de saúde e aumento da tributação sobre bebidas alcoólicas.
"A taxação de bebidas alcoólicas é amplamente reconhecida como a intervenção mais custo-efetiva, com forte impacto sobre o consumo e os prejuízos sociais e econômicos associados. O Brasil vive agora um momento decisivo: a definição das alíquotas do imposto seletivo é uma oportunidade concreta para o país se alinhar às melhores práticas globais", acrescentou Luciana.
Fonte: O Tempo.