Há nomes que chefiavam operações e outros que tentaram omitir informações sobre o desaparecimento de Rubens Paiva, atrapalhando as investigações
Dois bustos de Rubens Paiva estão instalados na Zona Norte do Rio de Janeiro (Foto/Tomaz Silva/Agência Brasil)
O filme “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro, reacendeu debates e investigações sobre vítimas da ditadura militar – especialmente do ex-deputado Rubens Paiva, cuja família tem a vida retratada na obra.
Informações apontam que Rubens Paiva foi assassinado em 1971, depois de ter sido levado por ordem do regime ditatorial de sua casa, no Rio de Janeiro. Sua mulher, Eunice Paiva, também foi levada e interrogada, mas liberada depois com vida pelos militares.
Anos depois, cinco militares foram acusados pela morte de Rubens Paiva. Atualmente, três deles morreram e dois continuam vivos, e o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa se a ação contra os responsáveis - assim como de outras duas vítimas - deve prosseguir.
Na segunda-feira (3), o deputado André Janones (Avante-MG) prometeu que publicará no X os endereços dos militares acusados de matar Rubens Paiva.
Isso, depois que militantes do coletivo Levante da Juventude fizeram uma manifestação em frente à casa do general reformado José Antônio Nogueira Belham, na zona sul do Rio de Janeiro. Ele é um dos acusados e está vivo. O protesto foi em 24 de fevereiro.
Veja abaixo quem são e o que aconteceu com cada um dos cinco militares acusados pela morte de Rubens Paiva. O texto conta com informações de reportagem da BBC News Brasil com detalhes sobre os acusados.
José Antônio Nogueira Belham
Em 1969, integrou o Centro de Operações de Defesa Interna (Codi), que coordenada a repressão política. Entre 1970 e 1971, comandou o DOI-Codi, órgão do Exército de inteligência e repressão, onde foi chefe da Seção de Operações. Entre suas funções, estava organizar capturas e interrogatórios de suspeitos.
Documentos apontam 11 desaparecimentos e execuções no Rio de Janeiro no período em que esteve no DOI-Code, o que é rebatido por Belham que, em depoimento ao Ministério Público Federal, negou a existência de mortes no órgão durante seu comando.
Ainda vivo, ele nunca foi julgado pelo desaparecimento ou morte de Rubens Paiva ou de qualquer outra vítima da repressão. Belham ocupa a reserva militar e recebe R$ 35.991 por mês.A informação é do Portal da Transparência.
Jurandyr Ochsendorf e Jacy Ochsendorf e Souza
Irmãos, os sargentos integraram a brigada paraquedista do Exército e, na ditadura, eram da equipe de busca e apreensão do DOI-Codi do Rio de Janeiro. Eles são acusados pela ocultação do corpo de Rubens Paiva, assim como ocultação de provas para encobrir o assassinato. Eles teriam, por exemplo, destruído o carro usado para transportar o ex-deputado quando foi levado de casa pelo regime.
Os dois também teriam induzido as investigações a erros com a divulgação de informações falsas. Jurandye e Jacy sustentaram depoimentos que afirmam que Rubens Paiva teria fugido após um suposto ataque ao carro que o transportava, em uma tentativa de isentar militares pelo desaparecimento do ex-deputado.
Uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF) também aponta os sargentos como componentes de um esquema de sequestro de dissidentes políticos e de repressão a opositores.
Eles eram subordinados a José Antonio Nogueira Belham e Raymundo Ronaldo Campos e, no Centro de Informações do Exército (CIE), respondiam a Rubens Paim Sampaio. Raymundo e Rubens também são acusados pela morte de Rubens Paiva.
O CIE foi um órgão ligado a sequestros, mortes e desaparecimentos de opositores entre 1969 e 1975. Jurandyr morreu e Jacy segue vivo. Também da reserva, ele recebe aposentadoria bruta de R$ 23.457,15. O valor consta no Portal da Transparência.
Raymundo Ronaldo Campos
Com patente de capitão, atuou por um ano e dois meses no DOI do 1º Exército como oficial de permanência da seção de operações. Denúncia do MPF o aponta na participação de prisões, buscas em residências e apreensão de materiais classificados como subversivos.
O MPF também o apontou como parte de uma organização criminosa dentro do DOI que perseguia opositores do regime por meio de sequestros e desaparecimentos forçados.
Assim como os irmãos Ochsendorf, foi acusado pela ocultação do cadáver do ex-deputado e sustentou a teoria da fuga de Rubens Paiva. Cerca de 40 anos depois, Raymundo admitiu que a versão sobre a fuga foi inventada. A ocasião foi em 2013, em depoimento à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro. Raymundo já faleceu.
Rubens Paim Sampaio
Era major do Exército e usava o codinome "Dr. Teixeira". Chefiava uma das equipes operacionais do CIE no Rio de Janeiro e integrou, entre 1970 e 1974, um dos núcleos de inteligência do órgão. No mesmo período, esteve subordinado ao gabinete do ministro do Exército.
Uma denúncia do MPF informou que ele fazia parte do esquema que autorizou o uso do CIE para operações de repressão. O militar foi associado a sessões de tortura.
Em 2014, disse à Comissão Nacional da Verdade que não participou de sessões de tortura ou execuções, e que "nunca houve ordem expressa para que os líderes das organizações de oposição fossem mortos".
Dois anos antes, em 2012, sua esposa, Jeane Sampaio, disse ao jornal O Globo: "Ele fez o trabalho que tinha que fazer naquela época. É passado e ficou no passado. Ele não tem nada a declarar". Rubens já faleceu.
Fonte: O Tempo