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Há um dia para morrer?

Os acidentes ocorridos no carnaval de 2012 me remeteram a uma inquietação antiga

Vera Lúcia Dias
veludi@terra.com.br
Publicado em 01/03/2012 às 20:06Atualizado em 17/12/2022 às 08:42
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Os acidentes ocorridos no carnaval de 2012 me remeteram a uma inquietação antiga: Ao nascermos, já temos definido o dia da nossa morte?

Apesar de não acreditar no Destino na concepção comum, alguns fatos me fazem pensar que podemos definir o que fazemos da própria vida, mas não a forma de morrer quando chega o nosso dia.

Por que alguns vivem uma etapa de poucas horas e outros de mais de um século? E olhem que não estou me referindo a diagnóstico médico ou a laudos periciais – isso bons profissionais fazem com maestria –, mas sim à definição do tempo que durará a vida física de cada um...

Por que uma menina que reside no Japão – terra dos terremotos – atravessa o oceano de avião e vem morrer num brinquedo do Hopi Hari?

Por que uma criança viaja quilômetros para conhecer o mar e morre na areia, atropelada por um jet ski? Por que ela, e não qualquer outra?

Por que sobram balas perdidas para quem não está envolvido numa briga?

Por que justamente aquelas sete crianças na calçada, na frente do bêbado atropelador no Rio de Janeiro?

Por que alguém troca de lugar no banco do carro e daí dez minutos morre num acidente, enquanto o que trocou de lugar com ele permanece vivo?

Imagino que todos nós tenhamos centenas de exemplos como os acima citados, mas não posso imaginar a que tipo de reflexão eles nos remetem.

Somos seres que buscamos constantemente a relação entre causa e efeito, mas há alguns casos em que nossa reduzida sabedoria não nos socorre.

E aí, só me resta pensar que, quando chegam o dia e a hora de um desenlace, não há como mudar isso. Quem está marcado para tal, mesmo se estiver fazendo tudo dentro das normas de segurança, algum outro chega fazendo tudo errado para ser o instrumento de execução da sua sentença.

Com isso, não quero dizer que não tenhamos que tomar nossos cuidados e precauções. Não agir com cautela é uma irresponsabilidade que pode nos colocar como o instrumento da morte do outro e aí, sim, conheceremos a relação de causa e efeito pelo sentimento de culpa que fatalmente nos acompanhará, considerando que um bom advogado pode garantir a liberdade, mas não a limpeza da consciência. (*) Mestre em Psicologia Clínica, terapeuta do Luto e das Perdas e palestrante veuberaba@hotmail.com

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