Sabiam da existência um do outro. Nada de relevante
Sabiam da existência um do outro. Nada de relevante anunciava para aquele dia. Têm dias na vida que são assim. Aos poucos foram sabendo um do outro. Demonstraram apego aos seus afins. A crônica de hoje é para ele, que se tornou próximo devido à cumplicidade do universo. A vida é assim. Ao vivenciar o seu relato de alegria com a formatura de sua menina, no fim de semana, eu o homenageio e também aqueles pais que estão na mesma esteira de vida. A lembrança da angústia que ele sentiu ao ver a sua filha sair de casa para estudar e a felicidade do ir à sua formatura no fim de semana não cabiam nele, embora a sua alma seja grande. No entanto, ele se revisitava com a aventura do passado. De dores solitárias e amores convividos à época em que todos estavam juntos em casa. Lá, ao pé da escada, havia um quadro de aviso. Deixava escrito no quadro uma palavra que deveria ser ampliada pela redação escrita por eles. “Li a sua crônica”, disse-me. Fico surpreso quando me falam assim. A de hoje vai pra ele, ao expressar o amor incondicional às filhas. A sua felicidade, lá na sala de espera do Aeroporto Pampulha, era do tamanho de seu silêncio chorado por todos esses anos que ela estudou fora, sem que houvesse recuo no amar devido à distância. Amores não morrem, nem com a morte, sobrevivem à vida na eternidade. As lembranças povoam a mente, o coração, e por se tornarem tão reais podem ser tocadas como as pétalas o são pelo olhar do orvalho. Sou também apegado às minhas filhas. Tenho por elas o que o beija-flor tem pela flor. Eu as vejo com os olhos de orvalho caído em pétalas; elas não são minhas, mas eu sou um cuidador. Ele também é cuidador de filhas e as ama do tamanho que o amor precisa ser silenciosamente gritado em bocas silenciosas, mas falantes na hora da correição. “Amanhã é a formatura dela... Quando ela saiu de casa, não sei como pude ser...”, disse-me. “Andava pela casa e a sentia num cheiro tão longe de mim que a saudade me machucava sem que eu pudesse me sentir, só os meus olhos sabiam onde ficávamos eu e ela”. Eu o ouvia resignado à minha covardia de não poder comigo sem as minhas filhas se elas quisessem sair de casa para estudar... Creio que o permitir seja o mutilar consentido. Dizia-me ele que os familiares iriam ao encontro dela na formatura. Fomos aos poucos nos conhecendo. Naquele dia, ele estava falante, antes não. Sempre o vejo nas quintas-feiras rumo a Uberaba. “Gosto de ler”, e, com essa frase, descobri que ele era todos os clássicos de nossa juventude. Costumeiramente o voo estava atrasado. Aterrissaríamos em Araxá, aturaríamos o aguardar daqueles meninos e meninas assentarem, olharem pela janelinha e, em uníssonos, berrarem na decolagem da aeronave. Bom pra eles. Tudo esperado e acontecido. Ele assentado lá na frente a olhar o tempo aguardado para amanhã. Eu não sabia que ele era assim... eu não sabia que eu sou assim. Ao amigo Carlos Manzan e, por extensão, aos que amam os filhos, um Natal recorrente de felicidades compartilhadas pelo amor, caridade e fé.
Sabiam da existência um do outro. Nada de relevante anunciava para aquele dia. Têm dias na vida que são assim. Aos poucos foram sabendo um do outro. Demonstraram apego aos seus afins. A crônica de hoje é para ele, que se tornou próximo devido à cumplicidade do universo. A vida é assim. Ao vivenciar o seu relato de alegria com a formatura de sua menina, no fim de semana, eu o homenageio e também aqueles pais que estão na mesma esteira de vida. A lembrança da angústia que ele sentiu ao ver a sua filha sair de casa para estudar e a felicidade do ir à sua formatura no fim de semana não cabiam nele, embora a sua alma seja grande. No entanto, ele se revisitava com a aventura do passado. De dores solitárias e amores convividos à época em que todos estavam juntos em casa. Lá, ao pé da escada, havia um quadro de aviso. Deixava escrito no quadro uma palavra que deveria ser ampliada pela redação escrita por eles. “Li a sua crônica”, disse-me. Fico surpreso quando me falam assim. A de hoje vai pra ele, ao expressar o amor incondicional às filhas. A sua felicidade, lá na sala de espera do Aeroporto Pampulha, era do tamanho de seu silêncio chorado por todos esses anos que ela estudou fora, sem que houvesse recuo no amar devido à distância. Amores não morrem, nem com a morte, sobrevivem à vida na eternidade. As lembranças povoam a mente, o coração, e por se tornarem tão reais podem ser tocadas como as pétalas o são pelo olhar do orvalho. Sou também apegado às minhas filhas. Tenho por elas o que o beija-flor tem pela flor. Eu as vejo com os olhos de orvalho caído em pétalas; elas não são minhas, mas eu sou um cuidador. Ele também é cuidador de filhas e as ama do tamanho que o amor precisa ser silenciosamente gritado em bocas silenciosas, mas falantes na hora da correição. “Amanhã é a formatura dela... Quando ela saiu de casa, não sei como pude ser...”, disse-me. “Andava pela casa e a sentia num cheiro tão longe de mim que a saudade me machucava sem que eu pudesse me sentir, só os meus olhos sabiam onde ficávamos eu e ela”. Eu o ouvia resignado à minha covardia de não poder comigo sem as minhas filhas se elas quisessem sair de casa para estudar... Creio que o permitir seja o mutilar consentido. Dizia-me ele que os familiares iriam ao encontro dela na formatura. Fomos aos poucos nos conhecendo. Naquele dia, ele estava falante, antes não. Sempre o vejo nas quintas-feiras rumo a Uberaba. “Gosto de ler”, e, com essa frase, descobri que ele era todos os clássicos de nossa juventude. Costumeiramente o voo estava atrasado. Aterrissaríamos em Araxá, aturaríamos o aguardar daqueles meninos e meninas assentarem, olharem pela janelinha e, em uníssonos, berrarem na decolagem da aeronave. Bom pra eles. Tudo esperado e acontecido. Ele assentado lá na frente a olhar o tempo aguardado para amanhã. Eu não sabia que ele era assim... eu não sabia que eu sou assim. Ao amigo Carlos Manzan e, por extensão, aos que amam os filhos, um Natal recorrente de felicidades compartilhadas pelo amor, caridade e fé.
(*) Professor