ARTICULISTAS

Haja tempo

Ele passa lentamente quanto se é jovem

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 10/09/2013 às 19:44Atualizado em 19/12/2022 às 11:11
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Ele passa lentamente quanto se é jovem e, em velocidade aparentemente aumentativa com o passar dos anos, até que a idade avançada, equivocadamente chamada de melhor idade, o faz arrastar. Passando lentamente ou apressadamente, a memória nos dá a identidade necessária para as lembranças. Sempre a nos trazer à mesa dos nossos sabores recordações as mais variadas. Sabe-se que se viveu bem é quando os nossos remorsos não avolumam ao ponto de nos deixar rancorosos ou resistentes a história pessoal chamada recordações de perdas e ganhos. Sejam elas de natureza que for, em qualquer época de nossas vidas comporão a identidade a serem lembradas e revividas em tempo imponderáveis. Evódio, por pura falta de assunto, lembrou se de quando morou no Bairro Arquelau, circunvizinho do Rocinha. A rivalidade entre os bairros era como é a desconfiança de Uberaba para com o Uberlândia. Havia os comparativos entre os que viviam em localidades diferentes, as discussões calorosas e os dissabores dos desentendimentos. Havia os que optavam pelos socos e pontapés, eram os mais exaltados e menos afetos à compreensão. As meninas à época sofriam quando arrumavam uma paquera fora do bairro. A reação dos rapazes invejosos e arrelientos era imediata. Igual reação tinham os moços das cidades interioranas quando chegavam os rapazes das cidades maiores na busca de uma aventura amorosa, que elas não negavam a tê-la. Quando saíam em bando era farra na certa, com as desventuras e aventuras que os fatos requerem e a idade permite. Certa madrugada, após uma noitada de farra, Evodio e os amigos foram dormir na casa de um amigo que morava próximo de Uberaba. Havia naquela casa um cão, manso e grandalhão. Daqueles que gostam de pular no freguês e ficar nas proximidades das conversar a ouvi-las e a se estranhar com elas. Em noites longas esse cachorro aprontava uma choradeira sem que ninguém  entendesse, exceto o Nego que dizia que quando ele ficava choroso assim era por causa dos espíritos que não o deixava descansar. Certa noite seu Nego resolveu fazer um angu com muxibas para aquietar aquele cachorro inquieto. Preparou o angu com carinho e caprichou na carne. E foi se deitar enquanto aguardava o seu esfriamento. Servir comida quente faz do outro um esfomeado e ainda se corre o risco de perder o olfato. Nego se pôs a descansar, cochilou e dormiu, enquanto isso a rapaziada que estava na rua chegou esfomeada. Beberam a noite toda e não comeram. Ao chegar à casa do velho Nego se depararam com aquele angu amarelinho com carne cheirosa. A cachaça não permitia decifrar o que era pelos olhos, o cheiro estava saboroso e experimentaram com a ponta da colher para uma outra colherada devorando todo aquele angu enquanto o cachorro choramingava e latia do lado de fora da casa. Seu Nego acordou com aquela barulheira toda de cachorro, de gente falando alto de pratos sendo posto dentro da pia. Nem chamou a atenção da rapaziada foi logo fazer outro mingau. Sem muxiba para o desespero do cachorro.

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