Engraçado como nós, brasileiros, temos a memória fraca quando o assunto são nossos heróis. E heróis, no caso, não precisam ser somente políticos que agiram de forma maior e benéfica em nome da nação. Heróis também não precisam ser aqueles de filmes, que voam, soltam teias pelas mãos ou ficam verdes de raiva. Heróis de verdade são aqueles que, mesmo sendo normais como eu e você, fazem a diferença, e, dessa forma, promovem alegria, paz e até mesmo um simples sorriso.
Sendo assim, tive a honra que conhecer pessoalmente um herói do nosso futebol. Normandes, ex-zagueiro do Atlético-MG e Cruzeiro, dentre outros grandes clubes, em toda a sua simplicidade e natural excelsitude, participou da jornada esportiva do jogo entre Atlético-MG e Uberaba Sport, na quarta-feira.
Gigante por tudo o que fez dentro de campo e maior ainda pelo caráter e grande pai, faz com que todos o admirem de forma gratuita, natural, verdadeira. Normandes, o cara que foi ovacionado pela imprensa ao colocar o também gigante craque Tostão no bolso, o que aconteceu em um dos muitos mágicos duelos entre Galo e Raposa. Sim! Normandes, o cara que deu um chapéu no Rei do futebol, ali, do meu lado!
Foi fantástico.
Mas aí, fico pensand nossa cidade tem ex-jogadores e homens no patamar de Normandes; Dejalma Santos – o melhor lateral-direito de todos os tempos; Toinzinho e tantos outros e muito pouco os valoriza, os enaltece, os agradece.
Nosso país, por sua vez, não foge à regra e esquece, como que por obra de uma magia sem encanto, os craques, ídolos e heróis do passado. Esquecemos e muito pouco agradecemos àqueles responsáveis por alegrarem nossas tardes de domingo ou nossas chatas noites de quarta-feira, ambas salvas por um bom jogo de futebol. Esquecemos, como se nunca tivéssemos deixado cair uma lágrima após um pênalti convertido, um gol olímpico ou uma simples finta na lateral do campo. Injustamente, porque somos humanos, nos lembramos do título, do troféu, mas nos esquecemos no autor da façanha. Há quem não se lembre o nome do autor de falta aos 45 minutos do segundo tempo... Aquele que deu o título ao time de coração; aquele gol, naquele dia especial! Aquela história que, mesmo escrita, cai injustamente nas profundezas abissais do esquecimento.
Hoje, em tempos de ídolos instantâneos e heróis que em grande parte não são exemplos a serem seguidos, as lembranças, infelizmente, andam bem vivas nas memórias dos idólatras. Até hoje meu filho me pergunta sobre o goleiro Bruno, acusado pelo desaparecimento e morte de uma jovem. Já vi fotos de jogadores em meio a traficantes e outros tantos usando drogas em baladas, cercados de álcool, luxúria e prazer. No entanto, ao contrário dos nobres nomes citados no início desse devaneio, se tornam heróis às avessas, justamente por fazerem o que um herói de verdade não faria: ir contra o que sugere o bom senso.
No fim, o que resta é constatar que ser herói é pra qualquer um. É fácil ser tirano e ao mesmo tempo idolatrado. É fácil fazer tudo errado e ainda assim ser adorado. Difícil e bonito, é ser herói simplesmente por ter vivido na simplicidade dos atos, dos discursos, e, ainda assim, ter feito história, belas e eternas histórias.