Tenho a satisfação de poder andar pela minha cidade e sempre ser abordado por pessoas de bem. Entretanto, algo tem acontecido com frequência: revelando descontentamento, elas têm me feito observações sobre o nosso belo patrimônio histórico arquitetônico, que declina para o seu final. Se compararmos a beleza dos prédios antigos que tivemos com a devastação de hoje, essas pessoas estão cobertas de razão.
Recentemente, descendo pela Rua Major Eustáquio, parei meu carro no semáforo com a Rua Cel. Manoel Borges, exatamente sobre parte do terreno onde existia o centenário Solar dos Naves, demolido no final de 2002. Antes de virar à esquerda, senti algo estranho no meu lado esquerdo; era o coração perguntand Por que tanta violência com o nosso Patrimônio Histórico? Naquela mesma manhã, encontrei-me em local próximo dali com o renomado pintor, escultor, cantor, ator etc Hélio Ademir Siqueira, que me fez tristes revelações sobre o destino do nosso rico acervo imobiliário. Consenti com aquele amigo.
Como se não bastasse, à tarde recebi do amigo Fúlvio Ferreira, presidente da CDL, extensa matéria do jornal O Estado de Minas, com o títul “A história continua viva.” Vários prédios centrais de Belo Horizonte foram restaurados. O hipercentro da cidade está revigorado, numa prova de que “o passado pode conviver pacificamente com o presente”, diz a matéria num dos seus maravilhosos trechos.
O centro da nossa capital possui aproximadamente 700 imóveis tombados. Desse total, um percentual em torno de 70% a 80% que estiver bem conservado recebe isenção de IPTU. Fúlvio Ferreira, como líder classista, é um dos preocupados e com fundadas razões. Amâncio Riccioppo Filho lamenta o descaso que fizeram à placa metálica com referências sobre a Loja Notre Dame de Paris, onde muito antes morou o nosso fundador Major Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira.
Na Rua Vigário Silva derrubaram um prédio, mas preservaram a sua fachada com a logomarca “FP” de Francesco Palmério - engenheiro e juiz de direito nascido na Itália - que, por obra da lógica, é pai de Mário Palmério. Tive a honra de votar por essa preservação no Comphau.
A relação dos que se ressentem com os golpes dados na nossa história é imensa e, para homenageá-los, recordarei um trecho do artigo “Cadê o meu casarão?”, publicado no dia 11/02/03, pela advogada Maria Joana de Sousa Oliveira, que, ao finalizá-lo, cita o acadêmico Humberto de Campos. Senão vejamos: “Na infância, o que se ouve ou o que se vê não sobe para o cérebro. Desce para o coração e aí fica escondido.”
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro