É sempre assim: primeiro eu, a minha vontade deve prevalecer sobre as demais, minhas ideias não devem...
É sempre assim: primeiro eu, a minha vontade deve prevalecer sobre as demais, minhas ideias não devem ser submetidas ao crivo da crítica. Os meus impulsos são intuicões, que não devem ser submetidas à racionalidade, porque, assim, perde-se o seu caráter inovador, mesmo não sendo. Quem nos critica é despeitado porque gostaria estar executando em nosso lugar e não pode. É o individualismo em detrimento do coletivo. O meu grito de carnaval é que importa, mesmo que o local seja impróprio. O relevante são as tradicões, a recuperação do espaço como área cultural. Mesmo, que a estratégia provoque transtornos, ao interromper o trânsito, isolar comerciantes, penalizar concessionários, irritar moradores que ficaram sem acesso às suas garagens... Mas nada disso é relevante, porque julgamos que o melhor lugar é ali. Nem que tenhamos de fechar os entrocamentos de ruas arteriais no centro da cidade e das que dão acesso ao Mercado Municipal. Esse é o país do “eu posso”, do jeitinho; por isso, prevalecem as escolas sem bibliotecas, casas de diversões sem alvarás, a ilegalidade transpondo as raias da legalidade sem contestação. As operadoras de telefonia não cumprem o código do consumidor, nem os bancos. E um conjunto social de prestadores de serviços vão pelo mesmo caminho. E o poder público que deveria “publicizar” os seus atos o faz sem consulta. Não sei se o melhor lugar para azarar o Carnaval seja ali no pátio do Mercado Municipal – infeliz cidade que não tem um Mercado Municipal; é sinal de que as suas raízes culturais evaporaram. Infeliz cidade que crê que tudo tem que ser no Mercado. Aí fecham ruas e adjacências bloqueando estudantes, moradores, comerciantes e penalizando concessionários em nome de uma coletiva saída de uma Fundação Cultural, que creio eu, nem fez uma pesquisa para saber se os verdadeiros atingidos estavam de acordo com aquela interrupção. Enquanto isso, a Praça Santa Rita é subutilizada – esses dias um Bloco de Carnaval ensaiou ali não incomodando ninguém -, a Praçaa Rui Barbosa só passa por adaptações e reformas sem que haja volume cultural, a Praça da Concha Acústica continua sem acústica e sem som. Todos esses locais podem e devem ser utilizados como pontos culturais e até mesmo para rodízio e para pontos carnavalescos sem que precise penalizar aqueles que vivem aos arredores do Mercado. O fluxo urbano central começou a sofrer interrupções dias antes do Carnaval, onerando aqueles que vivem do trabalho no Mercado, creio que, quem pensou em fechar os acessos não pensou naqueles que vivem do trabalho daquela região, ao dificultar ou impossibilitar a ida de quem faz compras naquela localidade. Local, inclusive de gargalo social devido à permanência recorrente de “flanelinhas”, da Área Azul, e do difícil fluxo de veículos por falta de racionalidade neste fluxo. O conteúdo das apresentações carnavalescas é bom, mas não justifica o atropelo, mas, a crítica não é ao conteúdo e sim à forma e o local do fazer.