Em todas as religiões existem preceitos e doutrinas vistos como verdadeiros e santos, reflexos da verdade que ilumina a vida de todas as pessoas. Mas se aí falta “a música do Evangelho”, como diz o Papa Francisco, perdemos a alegria que brota da prática da fé. O mesmo acontece nas diversas realidades da vida, seja nas casas, na rua, no trabalho, na política, na economia, por excluir o Evangelho.
A fonte de dignidade humana e de fraternidade está contida na Palavra de Deus. Sendo o contrário, a sociedade, chamada para um encontro com o mistério sagrado, perde o ritmo da música em harmonia com os princípios do Evangelho. Assim, o convite feito para todos concretizarem a beleza e o amor universal, em meio a valores e contravalores, fica prejudicado na história de todos os povos.
O que está em jogo é a construção de um mundo novo, onde resplandeçam a justiça e a paz. Que seja garantida também a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões, em todos os países, unindo culturas e religiões diferentes. É possível realizar uma convivência serena, pacífica e fraterna, aceitando as diferenças e na alegria de sermos irmãos e filhos de um único Deus.
A unidade construída dentro de cada uma das Igrejas cristãs facilita a contribuição peculiar de seus membros. Na Fratelli Tutti, o Papa Francisco cita uma frase de Santo Agostinho, que diz: “O ouvido vê através do olho, e o olho escuta através do ouvido”. A unidade é querida por Jesus: “Que todos sejam um só” (Jo 17,21). Infelizmente, isso ainda não acontece concretamente e o desafio continua.
O caminho da paz e convivência entre as religiões cristãs passa pelo olhar de Deus, que não olha com os olhos, mas com o coração, sem fazer distinção entre uma pessoa e outra. Queira ou não, sem abandonar as convicções próprias, Deus é Pai de todos e realiza surpresas na vida individual de cada ser humano. É sim um caminho aberto para o diálogo e atuação juntos para construir o bem.
A identidade da vida cristã está enraizada no próprio Deus e, também, na busca da fraternidade entre todas as pessoas. Sem isto é possível alimentar atitudes agressivas de desprezo, de ódio, de xenofobia e de negação sistemática do outro, tudo isto frutos de deformação na prática religiosa. Assim acontece um desrespeito para com a sacralidade da vida humana.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba