ARTICULISTAS

Incompletude necessária

Estimado leitor, você já deve ter percebido o quão difícil é convivermos uns com os outros

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 26/09/2010 às 13:43Atualizado em 20/12/2022 às 04:08
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Estimado leitor, você já deve ter percebido o quão difícil é convivermos uns com os outros. Em todas as esferas, no trabalho, na família, nos vínculos de amizade, as relações humanas vêm sofrendo um profundo desgaste. Muitos, infelizmente, não estão preparados para o sagrado ofício da convivência.

Um dos grandes desafios para a saúde das nossas relações humanas é aceitarmos o fato de que somos incompletos. Tarefa difícil porque requer que superemos nosso sentimento de autossuficiência, tão em voga atualmente.

É fácil perceber que criamos, ao longo do tempo, mecanismos para nos defendermos da ideia de que precisamos uns dos outros. A nossa tendência ao isolamento, provocada por inúmeros fatores, é um claro sinal de que cresce entre as pessoas a máxima de que se pode fazer tudo sozinho, sem a ajuda de ninguém.

Não por acaso, muito nos angustia a ideia de termos que pedir algo a alguém, como se isso externasse nossa fragilidade perante o outro. Logo, se nos tornamos frágeis diante das pessoas, corremos o risco de sermos reconhecidos como incapazes de nos virarmos sozinhos. O melhor a fazer, então, é negarmos nossas incompletudes e passarmos a nos comportar como se o outro fosse desnecessário.

Advertia-nos Renato Russo quando dizia que desejava encontrar alguém para conversar, mas pedia para que essa pessoa não usasse contra ele os possíveis segredos que lhe revelasse. Quando usamos a incompletude do outro para lhe fazer ameaças, seja de que natureza for, reforçamos a ideia de que o melhor mesmo é viver sozinho, pois assim eliminamos a possibilidade de nos decepcionamos com alguém.

Mas, ao adotarmos essa postura, não percebemos que negamos um dos nossos traços mais essenciais, que é a vida gregária. Durante nosso desenvolvimento maturacional, nos damos conta de que somos, biológica e emocionalmente, incapazes de satisfazermos, verdadeiramente, a nós mesmos. É ao lado dos amigos, ou dos filhos ou da esposa que queremos estar quando algo de muito alegre ou muito triste nos acontece. Compartilhar nossas emoções é fundamental para mantermos o equilíbrio mental.

A continuidade de nossas existências depende do encontro de duas pessoas. Quando elas perdem o medo uma da outra, se aproximam, superam os receios de se reconhecerem incompletas e deixam que suas almas se unam, alcançando o mais sublime de todos os atos humanos: a vida. Somente vencemos o vazio da nossa infertilidade na presença do outro.

Quando aceitamos, enxergamos que nossa incompletude é necessária para nosso crescimento interior, descobrimos que ela pode servir de pretexto para que desejemos, sempre, melhorar como seres humanos. Ao se buscar hoje ser melhor do que ontem, apresenta-se ao outro um eu cada vez melhor. E se a recíproca for verdadeira, demonstração de carinho maior para consigo mesmo e para com aqueles que o rodeia não pode haver.

Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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