“[...]Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. [...]” Maiakóvski
Tenho pensado muito neste fragmento de texto quando ouço as medidas tidas como “soluções” para o problema do desemprego em nosso país. Nosso Desgoverno acredita que reduzir salário e carga horária dos trabalhadores é uma “boa” decisão...
Isto até seria aceitável se estivesse sendo reduzido também os salários dos altos escalões e dos políticos e, pelo ralo do esgoto, não estivesse sendo levado (ou lavado?) o dinheiro público, contribuído a duras penas...
Sem querer ser alarmista, esta não pode ser uma antessala de um desemprego geral eminente?
Ainda que você não esteja direta e imediatamente incluído no grupo atingido por esta medida, já se imaginou na situação de chegar em casa e explicar para mulher e filhos que seu salário será diminuído do nada? Como continuar arcando com responsabilidades financeiras cujos valores não foram proporcionalmente reduzidos?
Qual economista pode explicar como se fechar uma conta na qual se reduz a entrada sem acontecer o mesmo com a saída?
Não quero ser alarmista, mas vejo que tem se mexido em coisas até então tidas como imexíveis.
Será que a condição dos já aposentados está consolidada ou será que nossa garganta também corre risco com alguma surpresinha aí pela frente?
A exemplo dos textos acima, nossas flores da esperança estão sendo roubadas; nossos jardins de realizações estão sendo pisados; o brilho de nossa luz está sendo roubado; nosso grito está entalado, preso na nossa garganta arrancada com os roubos e desmandos dos corruptos.
Na atualidade essa medida não nos atinge a nós cinquentões com vida profissional consolidada, mas não podemos nos acomodar porque temos filhos, sobrinhos, alunos, afilhados. O que lhes reserva o futuro? Como poderão formar e sustentar suas famílias?
O que podemos fazer além de assistir a isso tudo indignadamente preocupados?
Ao contrário de artigos anteriores, nesse assunto me vejo como num beco sem saída e, desesperadamente, sem vislumbrar a luz no fim do túnel...
