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Inspirações sobre medicina

Fui consultar-me com o dr. Marcelo Hueb

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 23/10/2013 às 19:09Atualizado em 19/12/2022 às 10:32
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Fui consultar-me com o dr. Marcelo Hueb por estar ouvindo mal. Seu pai – o dr. Aziz – foi em minha mocidade um maestro em otologia, embora péssimo em xadrez que ficávamos jogando à espera da sala cirúrgica. O terceiro mosqueteiro, naquela época, era o dr. Adib Jatene, que dispensa qualquer apresentação. Mais esperto, foi para São Paulo e tornou-se o expoente maior da nossa medicina – não apenas na cirurgia cardíaca mas e acima na medicina social. O dr. Marcelo, uma geração posterior, tinha que conversar comigo – e a consulta foi fácil e pras cucuias. Tudo bem, na evolução simples, caímos naquele passado de há quarenta anos – e por aí à medicina dos tempos atuais. Com cuidado e discrição o jovem Marcelo, que pela idade foi filho do Aziz como poderia ser do Adib ou meu (cruz credo!...) – entregou-me uma transcrição resumida da Aula Magna na UnB – Adib – historiando e falando sobre o aspecto e evolução social da nossa medicina. Marcelo estranhou o que lhe pareceu solidariedade do Adib à importação dos médicos cubanos. Como participante e conhecedor da vida deste doutor Jatene li com cuidado a súmula de sua Aula Magna. Não me fixei na importação cubana – aliás, excelente rum! – mas re-visitei o que foi a vida deste doutor Adib na medicina brasileira. Antes de mais nada, ele jamais se gabou dos seus sucessos cirúrgicos, reconhecidos aqui e mundo afora. Foi na medicina social que sofreu insônias, sucessos reconhecidos – e fracassos que mentes, aspirações e desejos políticos buscaram ofuscar ou impedir. Não vou perder tempo em participar da discussão puramente política e interesseira da importação dos médicos cubanos. Prefiro fixar-me no generalismo da nossa medicina social, em mãos e interesses financeiros e políticos. Aliás, em memória apenas, lembro que Hipócrates não cobrava consultas em tratamentos. Nem vou lá atrás em minha própria vida, ganhando galinha em pagamento de doentes pobres. Não é por aí o estado crítico de uma certa assistência médica. Sem perder tempo, não reconheço a insuficiência de médicos nacionais. Eles existem, mas a vida atual não é aquela que eu, Adib e Aziz testemunhamos. O que existe, e é doloroso, é uma insolvência no desejo de trabalhar que fez a história da medicina. Trabalhei anos na antiga Santa Casa, com colegas brilhantes que davam aos pobres, atenção e atendimento. Hoje esta situação já não é honrosa: o médico comum só pode e deve trabalhar recebendo dinheiro. Muito poucos vivem Hipócrates. Naturalmente, no aperto da multiplicação, os doentes já não são atendidos por indivíduos. Seu médico pede que vá a um especialista, este a outro, o outro a exames, multiplicações, custos magros para cada um, uma medicina insegura. Cubanos mudarão esta situação? Não acredito. Antecipo, ponham na minha conta: um número deles vai cair fora em pouco tempo. Para uma crônica, penso que chega e provoca. Querem saber e resolver? Chamem o Adib. Ele vai dar as regras, fazer muita coisa fundamental... mas, penso que não conseguirá tudo antes de morrer... e do lado de lá iremos conversar ou chorar. A repartição dos pacientes por uma equipe médica em sociedade e pobreza, tentativa de sobrevivência financeira, faz desaparecer o “uno paciente” – que repartido deve justificar sua consulta e exames múltiplos ou desnecessários.

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