Amigos e inimigos habitam o inverso de um mesmo lado. Um relaciona-se com o lado bom que há em todos, e o outro, o lado ruim existente em nós, também. Pode-se ficar anos sem vê-los, mas ao vê-los toda a alegria ou o lodo sopita. É a natureza humana. E assim caminha a humanidade em sua esteira evolutiva. Ganha se musculatura mental, não na mesma proporção de inteligência emocional, como pode perder massa muscular quando não se exercita. Malhar, caminhar, nadar, pedalar compõem o cardápio do bem viver. É primoroso acertarmos os nossos ponteiros. Mas, voltando à prosa do amigo, o Evódio disse-me que voltou a malhar em academia em clube da cidade. O Evódio e os seus casos intermináveis muito me distraem e espraiam a minha mente dos temas obsessivos do dia a dia. Ele me faz mudar de assunto e a pensar coisas singulares, porém, que podem ser complexas. Disse-me que voltou a malhar porque estava se sentindo sedentário demais e optou, portanto, em retornar às atividades físicas por causa de sua saúde e não por uma estética de corpo definido. Até mesmo porque a sua idade já não mais comporta aquela musculatura de causar inveja aos carnívoros do marco zero do processo evolutivo. Fez, então, a sua avaliação física e foi instruído em sua primeira aula pelo professor Gustavo Negrão, que lhe deu as orientações e elaborou o seu plano de treino cotidiano. Depois se encontram esporadicamente na academia. Evódio olhava a academia cheia de personal trainer e se sentia só em seus treinos. Quando não se pode pagar um, o abandono é inevitável; pensava. Você paga o clube, a academia e ainda tem que ter um personal para acompanhá-lo, senão é abandono ao meio daqueles equipamentos, pesos, suores, e se não houver incentivo, você larga mesmo, ponderei com Evódio. No entanto, Evódio estava bem amparado, porque o seu orientador é um amigo que há tempo não via. São amigos desde a época em que ele não pensava ser educador. Evódio pensou que estivesse preparado para a solidão do seu encontro com os pesos, esteira, remador, pessoas saradas, outras nem tanto, corredores contumazes, mas não estava. Começou a desanimar, a fazer os exercícios pela metade... foi-se esmorecendo. O seu amigo preparador físico o observava como uma coruja, até que resolveu intervir: você deve andar de bananeira, né, Evódio, porque você só malha braços. E outra coisa, você está saindo mais cheiroso do que quando chega à academia. Você está perdendo o seu foco, é preciso malhar com um objetivo a ser atingido senão perde-se o entusiasmo e a tendência é o abandonar das atividades. O nosso cérebro acusa quando estamos fazendo por fazer e aí ele não nos incentiva, é preciso dar um sentido para que o corpo atenda ao comando. Esta é uma das vantagens de ter amigo por perto. Ele incentiva, chama à observação, diferentemente do inimigo, quando não despreza o que há de melhor em si, elogia o erro para você perdurar em seus equívocos.
(*) Professor