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Liberdade dos pássaros

Abro um livro por acaso. Em caracteres itálicos, a frase

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 09/02/2014 às 12:33Atualizado em 19/12/2022 às 09:06
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Abro um livro por acaso. Em caracteres itálicos, a frase: “Para aqueles que enxergam tudo escuro, o sol já se põe de manhã.” Mais adiante: “O melhor termômetro para medir nosso estado de saúde é a alegria.”

Você já reparou como estamos cercados de gente triste? Pessoas amargas, envinagradas, frustradas, mal-amadas, sem infância? Gente que não perdoa nossos erros? Gente que comenta todos os nossos atos? Gente que só vê os nossos defeitos? Gente de coração duro para os quais (parece...) nada dá certo na vida? Gente que enxerga só o lado escuro? Gente de religião sem amor, de religião de ritos, sem misericórdia nem compaixão?

Por outro lado, estamos rodeados de gente feliz. Gente que sorri com sorriso aberto, acolhedor. Gente que ama você. Que compreende, tolera, perdoa e acolhe. É bom sentir-se amado. Pode ter certeza: alguém gosta de você. Não se preocupe com os pessimistas. Sei diss estão muito perto de você. Parentes? São, às vezes, os piores. Sei que há muita gente que agride você. Nunca de frente, com lealdade. Sempre em sua ausência. Não se entristeça com isso. Que os corações pequenos não abalem sua paz, sua alegria. Ore por eles. São dignos de compaixão.

O mundo está cheio de gente pessimista. Azeda o ambiente. Quando eu era adolescente, envolvido com literatura, li uma frase de Machado de Assis, no “Dom Casmurro”, que me fez muito mal naquela época. Cito de memória: “Não tive filhos. Não quis transmitir a ninguém a herança da miséria humana.” Dizem que o Machado é o maior escritor brasileiro. Pode até ser, mas não faz o meu gênero. Era um tremendo pessimista.

Sem dúvida, o maior poeta da Língua Portuguesa é Fernando Pessoa. Tenho suas obras completas em minha estante. Evito sua leitura. Destilam um pessimismo que me faz mal, um não-sentido da vida, uma tristeza subliminar, doída. Fico longe. Prefiro a luz. O sol brilhando pela manhã.

Mas o pior acontece. Tenho a impressão de que o mundo está piorando muito. Será que estamos caminhando para o fim? Homens beijando homens. Pai matando filho criança. Mães jogando filha pela janela. O mundo ficando cada vez mais quente. A água potável diminuindo. Afirmam os entendidos no assunto que em 2050 haverá briga não mais por causa do petróleo, mas pela água potável. Nações invadindo nações à procura do que beber. Terremotos. Tornados. Enchentes. Desmoronamentos. Os meios de comunicação só mostram desgraças. Penso que é tolice pensar no fim do mundo. Tenho dúvidas. Um grupo internacional de estudos de problemas relativos à alimentação afirma que, se a população continuar nesse atual ritmo de crescimento, antes do ano dois mil e cem não haverá mais o que comer. O mundo não poderá sustentar nove bilhões de pessoas. Vão recorrer aos insetos? Você tem razão, as coisas estão piorando. E muito.

Afinal de contas, aquela dúvida inicial continua dançando dentro de minha cabeça: será que estamos destruindo a Casa que Deus nos deu? 

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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