ARTICULISTAS

Livres ou condicionados?

Gostamos de afirmar, com certo orgulho, que somos livres

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 22/07/2012 às 13:44Atualizado em 19/12/2022 às 18:24
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Gostamos de afirmar, com certo orgulho, que somos livres. Temos liberdade para fazer nossas escolhas, para tomar nossas decisões. Sim, somos livres, mas até certo ponto. O que é certo é que, grande parte daquilo que fazemos, é fruto de condicionamentos. O sociólogo Émile Durkheim afirma que não somos tão livres como pensamos. Somos condicionados por vários tipos de pressã religiosa, familiares, costumes, moda, leis e outros mais. Vivemos pressionados por leis que não nos permitem fazer o que nos dá na cabeça. Fazemos o que a moda, as leis, os costumes, a religião determinam.

Foi dessa teoria que me lembrei ao ler uma reportagem na “Folha de São Paulo” (14.7) sobre alimentação. Diz o autor que, dentro de 30 anos, a população mundial chegará aos nove bilhões de habitantes, o que trará problemas de água e alimentação. Pensando nisso, a ONU prevê a entrada no cardápio de novos tipos de alimentos. A Nutrinsecta (empresa brasileira de alimentação) já se prepara visando ao futuro. Os insetos serão adicionados na alimentaçã grilos, gafanhotos, besouros, escorpiões, formigas e muitos outros. Uma farinha desses insetos será uma fonte muito rica de proteínas. Em Betim, já estão servindo grilos cobertos de chocolate. Não é de assustar, há séculos os esquimós tomam sopa de vermes criados na gordura das focas e os chineses adoram espetinhos de escorpião. São condicionados.

Lendo essas preferências alimentares, somos tomados de nojo. Acontece que todos nós somos condicionados para achar higiênico o mel e nauseantes outros alimentos. O mel é vômito de abelha, o camarão só come carne podre. Você já ouviu falar de que são feitos o salame, a margarina, a salsicha e um monte de outras coisas que você come todos os dias? De vez em quando, você recebe um convite para comer um frango caipira. Você já pensou em tudo o que come um frango caipira? Simplesmente de tudo o que encontra pela frente, minhocas, mandruvás, baratas, fezes, carrapatos, pedaços de carne podre, varejeiras. E você come com gosto, principalmente se for ao molho pardo. O certo é que não podemos nem pensar naquilo que essa meninada de 10 anos vai comer em 2040. Um grupo de nutricionistas se reuniu, faz pouco tempo, para discutir sobre a possibilidade do aproveitamento da carne de rato. Não se trata desses nossos ratos e ratazanas que infestam nossos esgotos. Trata-se do chamado rato de laboratório, daqueles brancos, bonitos, asseados, só se alimentam de ração de alta qualidade proteica. A produção deles é vertiginosa, 10, 15, 20 de cada ninhada. É uma solução. É claro que haverá um condicionamento prévio, uma motivação psicológica e nutricional. Todos serão muito livres para achar muito bom o cardápio. São livres.

Toda essa lenga-lenga, leitor, é apenas para pensar que não somos tão livres como pensamos. Nossas escolhas não dependem apenas de nós. E não são poucas. Por isso é que não podemos deixar de pedir ao Espírito Santo que nos conceda o dom da Sabedoria, isto é, o dom para tomarmos sempre as decisões certas. Assumir com coragem aquilo que realmente depender de nós e não do que pensam os outros. Não é fácil viver livremente.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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