Gostamos de afirmar, com certo orgulho, que somos livres
Gostamos de afirmar, com certo orgulho, que somos livres. Temos liberdade para fazer nossas escolhas, para tomar nossas decisões. Sim, somos livres, mas até certo ponto. O que é certo é que, grande parte daquilo que fazemos, é fruto de condicionamentos. O sociólogo Émile Durkheim afirma que não somos tão livres como pensamos. Somos condicionados por vários tipos de pressã religiosa, familiares, costumes, moda, leis e outros mais. Vivemos pressionados por leis que não nos permitem fazer o que nos dá na cabeça. Fazemos o que a moda, as leis, os costumes, a religião determinam.
Foi dessa teoria que me lembrei ao ler uma reportagem na “Folha de São Paulo” (14.7) sobre alimentação. Diz o autor que, dentro de 30 anos, a população mundial chegará aos nove bilhões de habitantes, o que trará problemas de água e alimentação. Pensando nisso, a ONU prevê a entrada no cardápio de novos tipos de alimentos. A Nutrinsecta (empresa brasileira de alimentação) já se prepara visando ao futuro. Os insetos serão adicionados na alimentaçã grilos, gafanhotos, besouros, escorpiões, formigas e muitos outros. Uma farinha desses insetos será uma fonte muito rica de proteínas. Em Betim, já estão servindo grilos cobertos de chocolate. Não é de assustar, há séculos os esquimós tomam sopa de vermes criados na gordura das focas e os chineses adoram espetinhos de escorpião. São condicionados.
Lendo essas preferências alimentares, somos tomados de nojo. Acontece que todos nós somos condicionados para achar higiênico o mel e nauseantes outros alimentos. O mel é vômito de abelha, o camarão só come carne podre. Você já ouviu falar de que são feitos o salame, a margarina, a salsicha e um monte de outras coisas que você come todos os dias? De vez em quando, você recebe um convite para comer um frango caipira. Você já pensou em tudo o que come um frango caipira? Simplesmente de tudo o que encontra pela frente, minhocas, mandruvás, baratas, fezes, carrapatos, pedaços de carne podre, varejeiras. E você come com gosto, principalmente se for ao molho pardo. O certo é que não podemos nem pensar naquilo que essa meninada de 10 anos vai comer em 2040. Um grupo de nutricionistas se reuniu, faz pouco tempo, para discutir sobre a possibilidade do aproveitamento da carne de rato. Não se trata desses nossos ratos e ratazanas que infestam nossos esgotos. Trata-se do chamado rato de laboratório, daqueles brancos, bonitos, asseados, só se alimentam de ração de alta qualidade proteica. A produção deles é vertiginosa, 10, 15, 20 de cada ninhada. É uma solução. É claro que haverá um condicionamento prévio, uma motivação psicológica e nutricional. Todos serão muito livres para achar muito bom o cardápio. São livres.
Toda essa lenga-lenga, leitor, é apenas para pensar que não somos tão livres como pensamos. Nossas escolhas não dependem apenas de nós. E não são poucas. Por isso é que não podemos deixar de pedir ao Espírito Santo que nos conceda o dom da Sabedoria, isto é, o dom para tomarmos sempre as decisões certas. Assumir com coragem aquilo que realmente depender de nós e não do que pensam os outros. Não é fácil viver livremente.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro