Existem problemas difíceis para a sobrevivência dos nossos cronistas menores
Existem problemas difíceis para a sobrevivência dos nossos cronistas menores. A grande e metropolitana imprensa ou não transmite nossa ciência e pensamento ou então faz questão de nos contraditar com o esmagador público a que servem e atingem. Pois não é, meus amigos, que agora a revista VEJA resolveu atacar-me na franqueza e honestidade da minha crônica, especificamente a da semana passada, a que chamei “afinal o final”.
Eu supunha que o processo eleitoral estava liquidado, não mais escreveria sobre a política e estas eleições. Contei minha conversa com o Dino, fiel depositário de minhas convicções, e por vezes meu crítico conselheiro. Falei da minha convicção sobre as belíssimas intenções e os maravilhosos programas governamentais expostos pelos candidatos de todo e qualquer partido ou espécie. Fiquei comovido com a solidariedade de todos no grande programa, que iria levar o Brasil a ser cabeceira no mundo atual e nas Nações Unidas. Já via aparecer na Folha e no Estadão o retrato do Lula apontando o Barack Obama e dizend este é o cara!
No meu entusiasmo eu via aquele maluco do “Aqui.não.é.já”, o tal que quer matar mulher infiel a pedrada – embora lá só tenha areia, e não pedras – vem tomar a nossa benção e converter-se a pregador da Igreja Universal. Assumi que realmente o ensino será gratuito e universal para todas as profissões e credos. Os drogados e marginais iriam desfilar no Catumbi, fantasia de anjos da guarda distribuindo pipoca e pé-de-moleque pra meninada. A polícia sopraria apitos da escola de samba, reco-reco, sandálias havaianas em lugar do batebute da era bruta agora terminada. E as promessas choviam: a casa própria, todos os doentes teriam assistência estatal integral e gratuita, qualquer dor no peito ali na Piracanjuba, levava o brasileiro num jatinho e tirava o Adib Jatene da cama para seu exame e salvação.
Eu iria usar camisa verde e calça amarela, homenagem pessoal ao presidente, governadores e todas as câmaras “leililativas”. Pois é, minha gente, mais uma vez minha garrucha crefou: nada disto aconteceu, e somente o Dino estava certo, indo pescar lá na lagoa da emendada. Pior, e mais grave: a VEJA publica em branco a sua capa dizendo que ali estão as promessas e realizações dos novos governos. Fiquei esmagado, afinal tratava-se da VEJA... e sua força.
Lembrei-me do Zeca Batista, nosso condutor dos negócios de terra lá pelo velho Goiás. Zeca era pacificador, mas numa briga de festa casamenteira envolveu-se em séria desavença com dois primos, garotada sem juízo, e saiu para briga, armado de um trinta e oito modelo 1918. Com dois tiros os garotos pularam pro outro lado do balcão, onde havia um bruto estoque de pinga 51. E tiro pra cá garrafada pra lá o Zeca pediu arreglo, já sem bala no velho Schimit. Perguntado porque a entrega, Zeca foi franc doutor, a luta foi desigual: o calibre deles era maior! Pois é, amigos, o calibre da VEJA é maior. Dino, espera que eu já vou!
(*) médico e pecuarista