Estimado leitor, apesar de ter durado menos que a ditadura brasileira, a ditadura Argentina foi igualmente violenta. Estima-se que o governo ditatorial sequestrou mais de 30 mil pessoas nos seus sete anos de poder. Além disso, a crueldade da repressão fez com que vários dos argentinos que lutavam contra o governo fugissem do país. Foram mais de 2,4 milhões de fugitivos do sistema, cerca de 200 mil se abrigaram no Brasil.
Um dos grandes símbolos da resistência contra a ditadura na Argentina são as chamadas Mães da Praça de Maio. Esse movimento teve início em abril de 1977, quando Azucena Villaflor convocou outras mães que, como ela, tiveram seus filhos desaparecidos para um encontro na Praça de Maio, em frente à casa do governo argentino, para trocarem experiências e estratégias de busca pelos desaparecidos.
Inicialmente, foram 14 mulheres. Em 1986, houve uma ruptura entre as mães, motivada por critérios diferentes em relação à aceitação de compensações financeiras por parte do governo e por pequenas divergências metodológicas de luta com o governo constitucional.
As Mães da Praça de Maio exigem justiça e punição aos responsáveis pelos sequestros, tortura e assassinato de pessoas dentro do processo empreendido no princípio da década de 70, sistematizado e institucionalizado com a ditadura iniciada em 1976.
A necessidade de se identificarem entre si levou-as a estabelecer como símbolo o pano branco com o nome de seus filhos. Frente à proibição de realizarem reuniões de mais de duas pessoas em vias públicas, as mães responderam com a caminhada ao redor da pirâmide. Desde então, todas as quintas-feiras, elas se reúnem para realizarem suas rondas.
As Madres da Praça de Maio buscam a construção social mais justa e se manifestam contra a violência e o esquecimento. Mas não abrem mão de uma de suas bandeiras de luta: julgar os que cometeram os crimes contra seus filhos. Por isso é que exigem investigação exaustiva sobre o destino de cada um dos presos e desaparecidos, julgamento e punição a todos os responsáveis pelo terrorismo de estado e nulidade às leis de impunidade para os que praticaram esses crimes.
As líderes do movimento realizam debates e seminários em escolas, universidades e associações de bairros em âmbito nacional e internacional. Apóiam ativamente as exigências do povo, respaldando os movimentos populares em defesa da educação, da saúde, do trabalho, da moradia e da posse da terra.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM