A caridade regrada tem o condão de não promover o sentimento de gratidão em quem foi ajudado. Não é que devemos abrir a mão de forma desregrada para proporcionarmos algo de bom ao outro. Falo aqui sobre a caridade consciente; aquela que fazemos de forma a agradar ao ajudado e a nós mesmos. Tenho pensado muito sobre essa satisfação recíproca que a meu ver não pode ser desigual.
Quantas vezes ajudamos a alguém e não vemos o real proveito dessa ajuda. Cabe então a pergunta: prestamos a ajuda à pessoa errada? Ou não fomos sensatos o suficiente ao lhe dar a mão? Prefiro ficar com a segunda opção porque o bem, por atender ao mandato de uma Lei Suprema, não pode morrer naquele que o recebe. Daí me vem a certeza de que, sem nenhuma discriminação, o pensamento milenar de “fazer o bem sem olhar a quem” deve ser repensado.
Outro aspecto intrínseco ao bem está no fato de que ao darmos algo material ou imaterial a alguém, não podemos ofertar o nosso resto ou o que não tem mais valor. O bem não pode ser feito sem critérios, ainda que seja em pequenas doses. A sua essência, que é pura, exige o seu exercício com a mesma pureza. Quem recebe a ajuda percebe nitidamente se ela é de bom grado ou veio em forma de descarte. Diante disso a pessoa ajudada, em silêncio, cultiva ou não a gratidão.
Então, devo ou não ajudar? O ato de ajudar é um atributo inerente à espécie humana e descumpri-lo equivale a petrificarmos a nossa parte sensível. Portanto, quem tem a mão cheia e não quer estendê-la, corre o risco de perdê-la. Não me refiro à mão física que possui os cinco dedos, mas àquela que nos move por dentro para sermos melhores.
O dia a dia tem me ensinado que, sem essa “mão interna” para nos mover, não nos aprimoramos e acabamos por levar a vida ao nada.