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Mais marchinhas de carnaval

Estimado leitor, conforme combinado, retorno ao tema das marchinhas de carnaval. Antes, porém, gostaria de agradecer aos inúmeros leitores...

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:11
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Estimado leitor, conforme combinado, retorno ao tema das marchinhas de carnaval. Antes, porém, gostaria de agradecer aos inúmeros leitores que enviaram e-mails elogiando/criticando o artigo anterior. Vale dizer que foi, disparadamente, o que mais suscitou a participação dos leitores via correio eletrônico.

O carioca Haroldo Lobo, nascido em 1910, foi um especialista em compor marchinhas e sambas de cunho internacional. Em algumas parcerias compôs as seguintes: Ruas do Japão, Verão no Hawai, Na China, Nêga do Congo, entre outras. Mas foi com Allah-lá-ô, lançada em 1940, que o sucesso bateu à sua porta, pois não há quem não cante essa marcha carnavalesca, uma das prediletas do carnaval de 1941.

Numa festa que prima pela boêmia, uma canção que estimula o sujeito a “matar a sede” agradou aos foliões, que encontravam mais um motivo para ingerirem outras doses de bebida alcoólica.

Numa prova de que os temas abordados nas marchinhas eram variados, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. homenagearam os calvos no carnaval de 1942. Fazendo uso de um recurso muito comum, o duplo sentido, Nós, os Carecas, apregoava que os calvos não precisavam mais ter vergonha da sua condição, pois, “na hora do aperto”, era dos carecas que as mulheres mais gostavam. Mesmo com o fantasma da Segunda Grande Guerra, o carnaval daquele ano foi bastante animado.

Pirata da Perna de Pau, composta por Braguinha, em 1946, e vencedora do carnaval de 1947, relata as desventuras de um certo homem “do olho de vidro e da cara de mau”, que, a todo custo, tenta defender seu território. Essa marchinha aborda outro ícone do imaginário carnavalesc o homem, que, sozinho, reina absoluto em meio a um harém de mulheres e não aceita, em hipótese alguma, nenhum concorrente.

A questão da moradia, problema que ainda hoje assola o nosso país, ganhou destaque no carnaval de 1949, quando Paquito e Romeu Gentil compuseram Daqui não Saio. Perguntando onde é que ele iria morar, o protagonista, pai de quatro filhos, recusava-se a atender o dono do imóvel que, em vão, tentava despejá-lo.

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir só viriam para o Brasil a convite de Jorge Amado e Zélia Gattai em agosto de 1960. Mas onze anos antes, em 1949, Braguinha e Alberto Ribeiro compuseram uma marchinha em que a protagonista já aderira ao Existencialismo, filosofia defendida pelo casal francês e muito em voga nos círculos intelectuais no final dos anos 40. Chiquita Bacana brilhou na voz de Emilinha Borba, intérprete de grandes sucessos carnavalescos, e foi gravada nos Estados Unidos, na Argentina, na Itália, na Holanda, na Inglaterra e na França.

A Confeitaria Colombo seria imortalizada na voz da “Vedete do Brasil” Virgínia Lane, que em 1951 gravou uma das mais conhecidas e divertidas marchinhas de carnaval. Saçaricando trata do tema da paquera e do flerte, aproveitando-se, marotamente, de um termo muito comum naquele temp saçaricar. Vale ressaltar que Virgínia Lane já cantava essa marchinha na peça Eu Quero Saçaricar, de Freire Jr. e Luís Iglesias.

Lançada por Sílvio Santos no carnaval de 1969, Transplante Corintiano aborda o famoso sofrimento dos torcedores do Corinthians, que há anos esperavam por um título. Em plena vigência do AI-5 e sob rigorosa censura, os autores de carnaval eram obrigados a falar de assuntos suaves e mais voltados às questões do cotidiano.

Saca-rolha (1953), Cachaça (1953), Turma do Funil (1955), Quem Sabe, Sabe (1955), Vai com Jeito (1956), Me dá um Dinheiro Aí (1959), Índio Quer Apito (1960), Cabeleira do Zezé (1963), Mulata Iê, Iê, Iê (1964) e Marcha da Cueca (1971) são algumas marchinhas que não foram contempladas nesses dois últimos artigos, mas que gostaria de, ao menos, citá-las. Até o próximo domingo (de carnaval), quando tratarei da ascensão e declínio das marchinhas, pondo fim a essa trilogia.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus;

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