Certa vez na sala do gerente de uma empresa pública, assisti ao seguinte diálogo entre ele e um funcionário...
Certa vez na sala do gerente de uma empresa pública, assisti ao seguinte diálogo entre ele e um funcionári – Chefe, fiquei sabendo que o senhor vai me transferir desta unidade para outra, que fica no quadrante oposto de onde eu moro? – Sim, você já está transferido e amanhã deverá apresentar-se lá para pegar no batente – respondeu-lhe o chefe, dando a entender que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
O subalterno, em tom humilde, pediu ao chefe que lhe ouvisse e fez as seguintes ponderações: – Depois de eu ter rodado tanto tempo, agora, que estou em minha cidade e morando perto do trabalho, posso levar meus filhos à escola, almoçar com a família, o senhor vai me transferir? – Vou transferir, não! Você já está transferido! – frisou o chefe, acenando que não queria mais conversa. Mas o funcionário insistiu: – Posso saber o motivo da minha transferência? O chefe, em tom incisivo, respondeu: – Não há motivo algum. Só que eu cheguei aqui há pouco tempo e tenho que mudar tudo para imprimir a minha marca. Até uma cadeira eu mudo de lugar para ter o sabor da mudança – arrematou.
O funcionário não insistiu e, dali por diante, não foi mais o mesmo. É evidente que a sua produtividade decaiu.
Observando hoje o trânsito de Uberaba e vendo-o fluir sem tropeços e engarrafamentos, recordo-me com tristeza do tal gerente que mudava até uma cadeira de lugar só para sentir o prazer da mudança. Mais triste é ver obras feitas (?) em Uberaba, fruto de mudanças, sendo arrebentadas para voltar nossa cidade ao seu status quo, dele retirada a peso de suntuosas somas do nosso dinheiro. Setores outros, antes “impecáveis”, hoje são avaliados como sofríveis. A Saúde, por exemplo, ontem tão “sadia” e no abrir das cortinas, é vista moribunda, com dengue. Que pensamento atuava no sistema mental do dito gerente da empresa pública? O mesmo que atuou na mente da última gestão municipal: Será o pensamento da inconsequência?
“Coisa boa é ficar com a chave do cofre, gastar o quanto quiser e não ter que dar satisfação ao dono”, dizia Zote, quando via uma gastança desregrada. No caso de Uberaba, esse dono somos nós, o povo, que infelizmente não passa de massa de manobras. Com quem ficou a chave do cofre? Bem, nas “caprichosas” mudanças visíveis e invisíveis feitas na cidade, ficaram as marcas das impressões digitais.