ARTICULISTAS

Manhã de aprendizagem

A comunidade escolar Quintiliano Jardim amanheceu alvoroçada no Dia da Consciência Negra

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 23/11/2010 às 20:07Atualizado em 20/12/2022 às 03:07
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A comunidade escolar Quintiliano Jardim amanheceu alvoroçada no Dia da Consciência Negra. Eram professores(as), alunos(as), especialistas em educação e trabalhadores na educação prontos para tratarem do tema.

Seus(uas) alunos(as) iriam apresentar a questão negra nas transversalidades da cultura, culinária, no inglês, na biologia, na geografia. Todos os conteúdos, senão na sua maioria, seriam contemplados. Seus alunos brancos, negros e pardos estavam envolvidos de forma aberta, sem estereótipos de sofrimentos ou de lamento histórico de uma escravidão de negros e pardos no Brasil.

Os orientadores educacionais saíram do lugar comum, avançaram em conhecimento e perspectivas. Foi madura a forma como conduziram o tema. Há mitos históricos em torno deste tema, não diferente a outros temas, quando não empobrece a história de luta do negro no Brasil, o faz herói de lutas inexistentes. Exaltam Zumbi, numa biografia não confirmada historicamente, ou depreciam a luta abolicionista, relegando à lata de lixo o 13 de Maio, como se essa data se resumisse no gesto da Princesa Isabel. É muito reducionismo histórico.

Coube a nós, brasileiros, erradicar o modelo escravocrata transplantado da África para o Brasil através de Portugal, modelo mercantilista que nutriu reinos africanos e enriqueceu burgueses europeus. A escravidão no Brasil - século XVI – alastrou-se moralmente entre os habitantes. Ter escravo era aceitável, inclusive alguns alforriados tinham escravos. Outros alforriados retornaram à África e se tornaram traficantes, por razões as mais diversas, mas vários pegaram em armas e foram para os Quilombos, buscar a sua liberdade, suprimindo liberdades alheias. Enfim, a escravidão foi um emanharado de fatos e de situações. Foi um modo de acumulação primitiva de capitais, um modo de produção. O que há de comum, além da dor, é o débito social legado, que em muito prejudica a sociedade brasileira.

Completando esse quadro, surgiram no alvorecer do século XIX as teses raciais em detrimento ao mulato, aos negros. Essa somatória histórica tem que ser superada por políticas públicas e privadas universais e específicas, a fim de erradicar as mazelas deixadas por brancos, negros e pardos ao longo da nossa história social, com prejuízo sobremaneira aos negros e pardos. O Dia da Consciência Negra é legítimo, por contemplar a luta social do negro ao propor a reflexão e os debates acerca da questão social brasileira e as suas perspectivas na superação de seu fosso. A luta social do negro é do Brasil, porque faz bem à Nação.

Os temas apresentados na Escola Estadual foram estudados e pesquisados sem o ardor do ideologismo, que a tudo mascara, ou do radicalismo, que cega. A turma da Biologia estava um primor nas exposições sobre o albinismo, melanina, fenótipos e miscigenação racial, tema este apresentado pelos(as) alunos(as) do EJA.

Equivocam aqueles que querem racializar a luta social do afro-brasilidade ou negar ao pardo o seu direito declaratório. A questão de raça ficou na esteira da civilização e retomá-la é racismo às avessas. Não se discute mais se há ou não racismo. Devemos combatê-lo.

Concluindo, outro trunfo no evento escolar é a parceria Escola-UFTM no processo ensino aprendizagem, onde a universidade sai de seus muros e dá retorno social tão necessário e esperado por aqueles que usufruem o direito a uma educação gratuita.

(*) professor

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