ARTICULISTAS

Manifestação e silêncio

Decidir entre a manifestação e o silêncio é um exercício de consciência pessoal de difícil decisão. Ambas traduzem uma opção que não se esgota num dualismo reducionista de leituras

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:05
Compartilhar

Decidir entre a manifestação e o silêncio é um exercício de consciência pessoal de difícil decisão. Ambas traduzem uma opção que não se esgota num dualismo reducionista de leituras interpretativas acerca dos fatos expostos no cotidiano da vida. Manifestar quando o silêncio é precioso, ou silenciar-se quando se espera a manifestação. Só o autor do gesto poderá responder após consulta pessoal e de pouco valerão as teorias a respeito do comportamento humano. Valerá mais a vontade de sua alma e de menos a de sua razão. No entanto, o coração também fala, mas o seu linguajar, não sendo comum, somente os sentimentos poderão lê-los.

O silêncio fala, manifesta-se e traduz sentimentos os mais variados. A manifestação é visível, é palpável. É decisão de se posicionar diante do fato que incomoda ou porque se pensa que é injusto o que esteja ocorrendo. A manifestação não é opositora ao silêncio. Ambos têm os seus significados, benefícios e malefícios. A questão está na decisão entre manifestar ou silenciar.

Temos o silêncio da lealdade amiga, da reflexão sentida, do desligar dos aparelhos eletrônicos, da oração, da reflexão solitária. O silêncio pode ser, também, desdenho com o interlocutor, frouxidão da vontade de se externar. Ou pode ser simplesmente silêncio, por não ter vontade de falar. Pode ser simplesmente silêncio, porque não se pode falar.

Quando Emile Zola saiu de seu silêncio contra a prisão de Dreyfus, condenado injustamente pelos antissemitas, diferenciou-se daqueles que se silenciaram, permitindo os avanços do nazismo como sistema político de perseguição aos judeus na Europa. Quando Voltarie saiu de seu silêncio, convencido da inocência de Jean Calas, condenado injustamente pela morte de seu filho que queria se converter ao catolicismo para que pudesse ser cidadão, manifestou-se em prol da tolerância e da liberdade religiosa.

Temos as manifestações daqueles que saíram de seu silêncio, enaltecendo o Maoismo, o Castrismo, o Stalinismo e tantos outros sistemas que serviram para silenciar as almas democráticas e aniquilar homens, provocando-lhes dores e obrigando-os a preferir o silêncio.

O silêncio do torturador diante das manifestações de dores do torturado e as manifestações de injustiça diante do silêncio dos injustiçados compõem a roda da consciência social para onde se quer caminhar.

O silêncio do omisso, as manifestações manipuladas, a mentira silenciosa, a verdade que não se manifesta, matam consciências e jazem em jardins que o tempo afaga silenciosamente.

Entre manifestar ou silenciar, a decisão é pessoal, sem se esquecer de que o que sentimos não é importante. Não tem importância nenhuma. O que importa é o que fazemos com os nossos sentimentos. Se não aprendemos com o que aconteceu, então está tudo perdido.

(*) Professor

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por