ARTICULISTAS

Manifesto em defesa da vida

"Viu, sentiu compaixão e cuidou dele" – Lc 10,33-34

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 04/05/2021 às 20:19Atualizado em 18/12/2022 às 13:34
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Dom Paulo Mendes Peixoto e padres da cidade de Uberaba  

Nós, Arcebispo Metropolitano e padres da cidade de Uberaba, motivados pela exigência da fé e da nossa missão evangelizadora, dirigimo-nos ao Poder Público Municipal – Executivo, Legislativo e Judiciário –, bem como aos cidadãos e cidadãs uberabenses, para manifestarmos nossa preocupação, indignação e propostas frente ao cenário de dor, marcado pelo agravamento da pandemia do novo coronavírus em nossa cidade.

Inicialmente, prestamos nossa homenagem aos aproximados 800 mortos pela Covid-19, em Uberaba. Às queridas famílias dessas vítimas dirigimos uma palavra de solidariedade, extensiva aos nossos irmãos e irmãs enfermos e desempregados. Apresentamos nossa gratidão sincera aos que se encontram nas chamadas “linhas de frente”, arriscando-se para salvar vidas.

O elevado número de óbitos e de pessoas testadas com resultados positivos nos últimos dias, a possibilidade de colapso no sistema de saúde, a crise social e econômica, confirmam que estamos vivendo o pior momento da pandemia em Uberaba. Diante desse cenário sem precedentes, observamos, estarrecidos, o negacionismo genocida generalizado, a irresponsabilidade de grande parcela da população em relação às orientações para impedir a circulação do vírus, a morosidade da vacinação, a omissão de lideranças em relação aos mais pobres e vulneráveis, roubados em sua dignidade.

Sabemos que a responsabilidade é de todos, sobretudo de quem tem a missão primordial de cuidar da vida do povo e zelar pelo bem comum. Por isso, “não é justo jogar o ônus da imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores”, assim nos adverte o Pacto pela Vida e pelo Brasil.

Como discípulos-missionários d’Aquele que abraçou radicalmente a luta pela vida (“Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”: Jo 10,10) com a tarefa de prosseguir a sua missão humanizadora (“Eu vos envio”: Jo 20,21), queremos contribuir para a mudança desse cenário.

Considerando tal realidade desafiadora, não é hora de flexibilizar, mas de reforçar as medidas que auxiliem o controle da situação. Ainda que impopulares, buscar, com lucidez, estratégias corajosas e corretas, embasadas na ciência e na solidariedade. Assim, propomos:

Planejamento claro das ações do Executivo Municipal, acompanhado pelo Legislativo e Judiciário, incluindo lockdown rigoroso, coordenado e acordado entre municípios da região; Auxílio Emergencial suficiente à população pobre e renda mínima aos proprietários e funcionários das pequenas e médias empresas, pelo tempo necessário; incremento geral à economia; fiscalização mais efetiva com multas e cobranças das mesmas; rapidez no processo de imunização e maior descentralização de espaços para tal; audiências públicas em busca de soluções. À sociedade, advertimos sobre o risco da automedicação; sobre a necessidade da observância atenta aos protocolos de prevenção à Covid (usar máscara, higienizar as mãos, evitar aglomeração...) e outras iniciativas que ajudem a superar essa crise.

Em meio a tanta “escuridão”, descobrimos fortes sinais de esperança: profissionais e servidores de “linhas de frente” arriscando-se para salvar vidas; ações solidárias e gestos de cuidado; a vacinação, sinalizando para o controle da pandemia; o número de atendidos e recuperados; o Pacto pela Vida e pelo Brasil... Somando-se a isso, o espaço fecundo das comunidades de fé, de onde brotam numerosos gestos de partilha, de conscientização e de cuidado.

Por fim, conclamamos toda a sociedade a assumir uma luta coletiva em favor da vida. A crise é oportunidade de mudar para melhor, como nos assegura o Papa Francisco. Então, queremos sair dela mais humanizados. E, no futuro, ouvir a leitura dos nossos nomes, escritos na página dos que permaneceram, não do lado dos que se omitiram, mas dos que cuidaram, ampararam e defenderam a vida.

“Ainda há esperança porque a história não terminou” (Mons. Juvenal Arduini).

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