Lembro-me da imagem de uma amável senhora negra de pequena estatura, um pouquinho obesa, trajando vestido branco de mangas longas e na cabeça, um lenço da mesma cor...
Lembro-me da imagem de uma amável senhora negra de pequena estatura, um pouquinho obesa, trajando vestido branco de mangas longas e na cabeça, um lenço da mesma cor. Em suas caminhadas pela cidade sempre trazia consigo cerca de 10 cachorros e nenhum saía dos limites da obediência imposta por ela. O apelido que a popularizou vem da matilha que a acompanhava. Muitas vezes a vi pelas ruas descalças e saudosas do Parque Bom Retiro. Pesquisei muito e não consegui saber o seu nome.
Muitos podem não estar lembrando-se daquele anjo negro ou até não a conheceram; afinal o que vou descrever ocorreu nos meados da década de 50 e, naquela época, Dª Maria já grisalha não era tão moça.
Na rua Bom Retiro, onde hoje está a residência de nº 361, quase na esquina com a atual rua Vigário Silva, existia a Fábrica de Banha Universal e poucas edificações à sua volta. Do lado oposto da rua, lá embaixo quase na margem do córrego hoje coberto, existia a casinha da senhora Maria dos Cachorros.
Pois bem; a protetora dos animais era querida por todos e seus “filinhos” sentavam de frente à fábrica do sr. Adário e de seus filhos Walter e Waldir Pinto. Ali os animais esperavam alguma sobra de carne e sempre ganhavam.
Certo dia um senhor abastado que sempre ajudava Dª Maria, parou seu belo carro branco, um Ford Lincoln 48 ou 50, frontalmente à fábrica, em plano inclinado. Seu nome: Francisco Neves. O veículo pelo que concluo, ficou com o freio de mão puxado enquanto o seu dono permanecia naquele estabelecimento. Depois de algum tempo o carro se livrou das “amarras” e desceu rampa abaixo, literalmente desgovernado. O que lhe esperava? Só o córrego fundo.
Seu Francisco avisado, veio à rua e só fez colocar as mãos sobre os cabelos brancos, esperando pelo pior.
Eh..., “No meio do caminho tinha uma pedra”, grande tapiocanga próximo à casinha de Dª Maria. O pneu dianteiro direito do fordão esbarrou na pedra e o carro mudou lentamente de direção. Foi-se esconder atrás da residência de Dª Maria e parou ileso com o parachoque encostado a um chiqueiro. Pessoas e vários cães da casa correram para o local e o carrão depois foi rebocado por um caminhão com tranquilidade.
Dona Maria e seus cães receberam uma polpuda ajuda do proprietário do carro. E eu, até hoje me indag Qual dos dois mereceu mais, Dª Maria dos Cachorros, ou o senhor Francisco Neves?