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Médicos do Brasil

Meus leitores sabem que evito crônicas sobre a minha profissão

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 10/09/2014 às 20:21Atualizado em 17/12/2022 às 03:45
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Meus leitores sabem que evito crônicas sobre a minha profissão, meus colegas, nossos hospitais e assistência médica. Afinal, com 84 anos e o meu exercício de Medicina tenho uma experiência histórica e vivencial perto de um século. Aprendi e me formei na Faculdade de Medicina Federal do Rio de Janeiro, estagiei em São Paulo, aqui em Uberaba fui professor em nossa Faculdade de Medicina, Hospital Escola e na Faculdade do Mário e Marcelo Palmério. Isto, passado em atividade por muitos anos, dá-me experiência e crédito para o título desta crônica – inclusive porque jamais tive exercício político nesta atividade. Aliás, tenho o crédito de parceria médica e de ideias com a vida e pensamentos do nosso Adib Jatene, começada em Uberaba. Passados estes créditos e aproximando-se a aposentadoria final e definitiva venho me assustando com a nova evolução da Medicina no Brasil. Naqueles tempos iniciais, como se costuma dizer, a Medicina era um sacerdócio. Nenhuma vantagem até aí, porque desde Hipócrates isto era dito e verdadeiro – hoje é que lhe sobra apenas o título de ser profissão. Os progressos considerados e gabados como sacerdócio e milagres tinham muita verdade – e nós médicos um importante valor social, que perdura parcialmente. Entretanto, com a passagem e mudança dos anos estamos perdendo a importância profissional e valor social. Esta crônica é para mim um retrato do eu-menino ao lado do eu-velho – aqueles que guardamos nas salas domésticas e amareladas das famílias. Vem daí este meu desejo e obrigação de comentar a evolução e o estágio do que foi minha vida. Aprendi muita coisa fora e além dos livros, afinal meu sábio irmão José Humberto foi meu guia. Agora, assento-me aqui na cadeira e leio medicina nos jornais. Escuto no rádio e televisão, nos comícios políticos, naqueles que prometem salvar a saúde, o atendimento e a vida humana – e nas páginas seguintes os desastres da responsabilidade política. Sinto, com dor, que a Medicina vai deixando de ser, pensar e ter como distintivo a vida humana e suas maiores necessidades. Agora ela vai se aviltando numa sociedade dirigida pelos interesses, os do coração apenas quando um infarto os leva depressa pelos corredores internos. Não sei, não entendo como e porque comprar médicos em Cuba, aos montes e milhares, quando em nossa carestia de médicos, hospitais e atendimentos sempre aconteceram e foram socorridos por nossos profissionais e nossa sociedade. É horrível ver como são miserabilizados os brasileiros, os hospitais pobres, os médicos carentes em sua vida e profissão – um estímulo para a corrupção, estafa e miséria daquela Medicina que eu vivi. Amigos, o meu trem já apitou. Estou saindo, o que antes era força e alegria... agora me resta lastimar, ou chorar com os doentes verdadeiros da pobreza.

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