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Memória histórica

Estimado leitor, em se tratando de memória histórica, ninguém se lembra de nada sozinho

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 23/01/2011 às 14:27Atualizado em 16/12/2022 às 06:23
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Estimado leitor, em se tratando de memória histórica, ninguém se lembra de nada sozinho. As experiências vividas pelos indivíduos, quando são traduzidas em palavras, nunca se referem a vivências isoladas, pois, no momento em que deixam os labirintos da subjetividade individual e ganham o mundo externo, as lembranças incorporam elementos da coletividade em que estão inseridas.

Esse processo de transposição da memória individual à sua condição de memória coletiva faz com que os agrupamentos humanos se tornem mais cônscios da sua identidade, preservando hábitos, costumes, modos e representações simbólicas. É por isso que, quando um indivíduo de determinado grupo acessa suas memórias, ele retifica no tempo suas experiências culturais e se reafirma como pertencente a um universo que o rodeia. Em outras palavras, recordar é estar vivo no tempo e no espaço.

É a memória coletiva, portanto, elemento que traz o homem para dentro da história. Não como mero espectador, é bom frisar, mas como elemento atuante e transformador dos acontecimentos. Maurice Halbwachs, importante teórico do assunto, afirma: “O grupo, no momento em que considera o seu passado, sente acertadamente que permaneceu o mesmo e toma consciência de sua identidade através do tempo. Isso explica o hábito que as pessoas têm de sempre contarem as mesmas histórias quando se encontram”.

O tema fundamental na obra de Maurice Halbwachs é afirmação de que as memórias internas (individuais) dos sujeitos históricos existem sempre a partir de uma memória coletiva, uma vez que todas as lembranças são constituídas no interior de um grupo. A origem de várias ideias, reflexões, sentimentos, paixões que atribuímos a nós são, na verdade, inspiradas pelo grupo. Esse sentimento de pertença é o que confere de alguma forma, a coesão no grupo, esta unidade coletiva, concebida por Halbwachs como o espaço de conflitos e influências entre uns e outros.

A memória individual, edificada de acordo com as referências e lembranças próprias do grupo, refere-se, portanto, a um ponto de vista sobre a memória coletiva. Esse novo substrato mnemônico, deve sempre ser interpretado levando-se em conta o lugar ocupado pelo sujeito no interior do grupo e o das relações mantidas com outros meios.

Para além da formação da memória, Halbwachs aponta que as lembranças podem, a partir da vivência em grupo, ser reconstruídas ou simuladas. Podemos criar representações do passado assentadas na percepção de outras pessoas, no que imaginamos ter acontecido ou pela internalização de representações de uma memória histórica. A lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e, além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada.

(*) doutorando em História; professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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