Há uma diferença semântica entre mentir, enganar, ludibriar, ocultar a verdade ou não dizer toda a verdade. Os nossos superiores, sejam eles familiares, políticos, educadores ou religiosos são os que mais mentem, principalmente na “arte” de camuflar a verdade. Eles não podem dizer tudo o que sabem, seria um “Deus nos acuda”. Por isso é que existem mentiras justificáveis. Todos nós mentimos. Há muitos tipos de mentiras que não constituem crime, principalmente quando não prejudicam a ninguém. Não impedem o crescimento do outro. Não lesam. A chamada mentira familiar (“se for para mim diga que não estou”) nem sempre está prejudicando. Às vezes é uma necessidade. Conheço pessoas que, para trabalhar, precisam desligar o telefone. Não é justo ajudar os outros prejudicando a si mesmo.
Em nossa linguagem familiar existem muitas subtilezas ocultas em cada palavra. Há atenuantes e agravantes em cada entonação. É difícil interpretar a intenção dos outros através das palavras. Por isso nem sempre podemos julgar os outros com segurança. Só Deus pode.
Todos nós já estivemos diante de perguntas que nos deixaram embaraçados. Como dizer toda a verdade? As perguntas de crianças principalmente na área do sexo são, quase sempre, embaraçosas. São de resposta difícil. Não se deve nunca mentir para uma criança. Responder sempre a elas dentro da experiência e dos conhecimentos delas. Responder sempre ao que perguntam. Responder em nível de criança.
Certa noite, precisamente à meia-noite, o filho de um casal de amigos meus, de 6 ou 7 anos, me telefona. Acordei assustado e mais assustado fiquei ao ouvir a pergunta que aquele garoto estava me fazend “Padre Prata, perguntei pra minha mãe como nascem as crianças. Ela respondeu que meu pai botou uma sementinha dentro da barriga dela e fui crescendo até nascer. Aí perguntei pra ela como meu pai pôs essa sementinha dentro da barriga dela. Ela me respondeu pra eu perguntar pro meu pai. Fui perguntar e ele respondeu que perguntasse pra minha mãe. Como não me deram resposta, eu estou perguntando pro senhor que é meu amigo e não vai mentir pra mim”.
Bem, dentro dos possíveis conhecimentos de uma criança, contei-lhe a verdade, usando termos infantis, mostrando-lhe como Deus faz as coisas bem feitas. A reação daquela criança me surpreendeu: “É só isso? Então por que minha mãe e meu pai não quiseram me contar?” É quase certo que essa criança perdeu confiança nos pais.
Aprendi que a melhor coisa é dizer a verdade. Não mentir, não inventar estórias. O certo é responder em nível de criança e com ternura. Por que se envergonhar das coisas que Deus não teve vergonha de criar? O pecado não está no sexo. O pecado tem sua gênese na cabeça do adulto, na malícia que o perverteu. Não existe pecado no coração de uma criança.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo
