Desde a primeira e única crônica em que falei dos nossos queijos e gente, venho observando a evolução desta crise plenamente inábil e importuna. Vou esquecer aquela burrice agressiva de fiscais lá no mercado, apreendendo e chutando queijos pelo chão.
Fiscais são nomeados agentes da lei, têm que mostrar serviço – e mostrar serviço, para muitos, é mostrar otoridade e lavrar ocorrências. Existem fiscais e fiscalizações educadas e educativas que bem servem às leis e seus propósitos.
Dos nossos queijos vou perguntar algumas coisas que ainda não entendi. É claro e meritório proteger a saúde pública e é obrigação governamental usar leis e funcionários para este fim. Estão por aí as vacinações de toda espécie e as instruções e medicamentos preventivos, ponto. Acontece que essas medidas – às vezes drásticas – são precedidas por estudos sérios e conclusivos dentro da profilaxia às doenças que se pretende evitar. Nós todos ficamos sabendo, e agradecidos, das vacinas da poliomielite, do tétano e de mil outras. Acontece que tudo isso foi mil-estudado em laboratórios especializados da medicina. Verificados seus efeitos e resultados na espécie humana.
Voltando aos queijos, sem querer querendo, ignoro os estudos e demonstrações estatísticas e geográficas de sua extensão e morbilidade na massa humana e territorial do Brasil. Isto precisava ser demonstrado e publicado para o conhecimento de todos nós. É preciso reler o protesto dos nossos sitiantes e microprodutores, exatamente a massa enorme, ignorante e pobre, os que mais dependem e sofrem financeiramente com esta situação. Eu e o Dino fomos criados na força do leite rural, bebendo o leite saindo da maminha da vaca, no caso a Beija-flor, que era mais gorda e quente. Do balde o leite ia para a queijaria, de onde saía aquela massa espremida de que a gente já roubava uns pedaços, depois o queijo fresco, o meia-cura e o definitivo curado. Com esta experiência de meus sadios oitenta anos, eu iria perguntar ao especialista e chefe da missão estudante do nosso queij doutor, o senhor já comeu queijo mineiro? Em que fase e idade? Quantos e como? Que doença ou malefício este queijo lhe fez? É claro que eu não iria perguntar pelo cheiro do nosso queijo, que é característico e provocante. Considerados catinga e defeito, o doutor chefe daria sua opinião sobre a supercatinga dos supercaros queijos europeus... mas deixa isto pra trás.
Podem existir falhas sanitárias em alguns produtores? Claro que sim, mas em lugar de arrebentá-los no mercado poderiam fazer visitas e inspeções aos produtores, onde talvez até o fiscal ficaria feliz por... e também criar o selo de cada produtor, com exames por amostragem de suas partidas e vendas – e por aí as punições legais. O que não me convence é o que se está fazendo, uma grossura maligna para o produtor pobre e uma exclusividade protetora dos ricos. Isto sem falar numa consequência possível e muito brasileira: o mercado paralelo escondido, este sim, que merece purificação.
Agora chega: vou ali na chapa da cozinha, tem um queijo no ponto do meu sanduíche de goiabada rural. Sorry, meus fiscais: este não tem selo, mas tem cheiro!