Meu fio eu sou o véio / Que viu o tempo passá / Escutano qui o mundo ia acabá / Mais isso nunca aconteceu. De tudo eu fiz um cadim na vida / Das coisa que me traiz ferida / Num isqueço de nada... nadinha... / Até o qui mi inobreceu. Naci sem medo e nunca tive sisma / Mansei muito burro brabo / Qui pulava pá diabo / Ninhum deles me venceu. Me falaro de lobisomi / Mula sem cabeça e o capeta / De sombração com a venta preta / Mais eles ó... jamais mi apareceu. Binzição aprindi fazê / Castrá e mochá boi foi cumigo mesmo / Na roça nunca trabaiei a esmo / Lá o povo mi reconheceu. Eu vim mesmo do nada / Lutei dimais pra consigui / Nunca pensei em disisti / Pulei abismo nesse caminho meu. As letra... num dominei / Nem muito e nem um pôco / Mas pá trová nunca fiquei loco / Esse é um dom qui Deus mi deu. Pas moça eu fui bunito / Mais iscuí uma pa vida intera / A muitos ano é minha cumpanhêra / Foi pa modi isso qui ela me iscoieu. Fios, netos, bisnetos e tataranetos / Forma a minha maió riqueza / Pro home num há pobreza / Se uma boa famia ele mereceu. Agora com as força vincida / Mesmo os ano pesano a cada dia / Se eu pudesse esticaria / Meu tempo que já quase venceu... Fiz muita coisa certa e argumas errada / Muitas dela sairo fora da linha / Mas as boas marcaro a vida minha / Essas eu dexo pos herdero meu. Fico horas matutano / Quanto qui as coisa mudaro / Isturdia inté me preguntaro / Si eu vi o que se assucedeu. Um tali de computador / Diz qui inventaro pa ajudá nóis tudo / Mi falaro qui é um apareio sisudo / Qui acha qui o mundo é seu! Cruis credo, ave Maria! / Ondé qui nóis tamos Deus do céu !/ Diz qui a coisa tá ino pó beleléu / Dispois qui a tali máquina pareceu. Óia. Acho muito bunito o pogresso / E apriceio os adianto do mundo / Mais num vai achá qui num sigundo / Quarqué um já mi convenceu. Prifiro muito mais vivê / Do jeitim que a vida sempre foi / Num isqueço o carro de boi / Pra mim ó... ele nunca morreu. Moçada cêis presta atenção! / Nas palavras desse véio amigo / Ele num óia pa dento do imbigo / Pa aconseiá os amigo seu. Num sou dotô e nem mestre de sabedoria / Mais uma coisa eu provo já tê arcansado / Nunca agi sem antes tê pensado / Purisso jamais fracassei. Sei que os meus dia tão no fim / E a minha vida logo encerra / Mas a passagem que tive na terra / Posso dizê com toda honra: Valeu!
Homenagens ao sr. Eurides Simeão dos Reis que no dia 28/02/11 completará 102 anos de vida.
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro