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Minha bougainville

Cortei minha bougainville / Dei prioridade ao ladrão / Vinte e cinco anos de vistosas flores / Em cinco minutos foram ao chão.

João Eurípedes Sabino
forumarticulistas@hotmail.com
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:14
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Cortei minha bougainville / Dei prioridade ao ladrão / Vinte e cinco anos de vistosas flores / Em cinco minutos foram ao chão.

Inicio minhas palavras fazendo referências ao golpe que dei a contragosto na natureza. Obedeci ao mando impiedoso de quem ultrapassou agudos espinhos e caiu dentro do meu espaço sagrado, ou seja, minha casa. Cortei minha bougainville... Cada “gaio qui caía duía” no coração. Tomei emprestadas as palavras do mestre Adoniran Barbosa, cantadas no samba Saudosa Maloca: “...cada táuba qui caía...”.

Estão nos obrigando a arrancar cercas vivas, além de suprimir outros adornos naturais das nossas casas. Aí surgem os altos muros e grades, ostentando potentes cercas elétricas. Fachadas de paz viram armas defensivas. É uma transformação crucial, mas essa é a “lei” e temos que cumpri-la. A prioridade é do bandido.

Uma casa enclausurada por grades, muralhas e cercas elétricas torna-se invulnerável? Respondo com o que assisti a um metro de distância no início dos anos oitenta: Dr. Mário Zucatto Filho, então nosso Delegado Regional de Segurança Pública, capturou com sua equipe Marcelo e “Burrão”, assassinos do jovem médico e benfeitor Aulo de Oliveira.

O Delegado, com perspicácia, questiona ao matador “Burrão”: “Você e Marcelo passaram demoradamente diante de várias residências sem grades no Bairro Morada das Fontes e optaram por invadir outra situada distante. Saltaram uma grade com altura superior a dois metros; por quê?”. “Burrão”, algemado, responde, incontinênti, atrás de um Ray-Ban e mascando um “irônico” chiclete: “Doutor... bandido quando escolhe uma casa... é essa mesmo!”. César Sebastião Martins, Fernando Angotti, Marco Aurélio de Figueiredo e outros empenhados no caso saíram da sala diante de tanta frieza daquele algoz. Eu também saí.

Vale a pena levantarmos os muros, colocarmos grades com cercas elétricas e sacrificarmos a nossa bougainville? Essa pergunta fica sem resposta, enquanto as nossas crianças não forem resgatadas e o exemplo de impunidade vier de “cima”.

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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