A prisão do traficante Nem, amigo dos jogadores de futebol Adriano e Wagner Love, neste fim de semana no Rio de Janeiro, é marco de reconquista do território público cedido aos traficantes e às milícias nos últimos anos, devido à conivência política das partes. No entanto, somente a prisão do chefão pouco valerá se não houver uma nova arquitetura de ocupação espacial através de políticas públicas e oportunidades privadas na Rocinha. O que vale para o morro vale para os bairros que sofrem das mesmas variáveis; concentração de miséria, tráfico, conivência pública. Enquanto a ocupação policial na Rocinha foi aplaudida, a desocupação da reitoria, por determinação judicial cumprida pela Polícia Militar, era criticada por uma minoria estudantil que não quer a presença da polícia no campus da USP. Na semana passada, alguns estudantes invadiram a reitoria da USP, em protesto à ação coercitiva da polícia aos estudantes que foram pegos fazendo uso da maconha no espaço universitário. Esse foi o estopim da raiva, mas as causas são as mais variadas, inclusive no tocante ao caráter. Alguns estudantes ególatras sobrepõem os seus desejos ao coletivo e entendem que são os condutores da verdade e do bem comum. Os jogadores de futebol não veem mal algum em ser amigo e frequentar as festas do Nem e os estudantes da USP entendem que fumar maconha no espaço universitário em nada desequilibra a discussão em torno do vício e do tráfico. Assim como a Fifa e a CBF, dissimuladamente, propõem a venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa do Mundo. Não estão nem aí se o país contabiliza os seus mortos todos os dias devido ao excesso de álcool ao dirigir, se há uma tolerância zero para os motoristas. Na verdade, agem como as empresas de publicidade, que faturam alto com as propagandas de bebidas. Creio que elas deveriam ser proibidas, assim como proibiram as propagandas de cigarro. Quem não se lembra das propagandas de cigarro? Dava até vontade fumar. Antigamente, fumar era um dever social, era status e posicionamento não só de rebeldia, mas de maturidade social. Hoje é um horror e a cada dia menos locais existem para fumantes. A vontade da Fifa não pode sobrepor ao processo de amadurecimento da sociedade, externado na aplicabilidade de suas leis. Assim como não pode substituir a luta social dos jovens que emplacou a meia-entrada estudantil, impondo ingressos sociais que atendem os índios, as famílias beneficiadas com os programas sociais do governo... A luta estudantil foi pro ralo, embora a luta da juventude seja legítima e necessária. Somos nós quem pagamos a outra metade da meia-entrada estudantil, inclusive daqueles que invadiram a reitoria e gritaram abaixo a ditadura, em plena democracia. Pagamos para que estudem em universidades públicas e, às vezes, a contrapartida seja a depredação em nome da liberdade de expressão.
(*) Professor