ARTICULISTAS

Motocicletas

Já escrevi sobre elas, há algum tempo. Como todo brasileiro, sou pós-graduado em previsões e adivinhações. Naquela crônica eu já previa a crise decorrente

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 15:30
Compartilhar

Já escrevi sobre elas, há algum tempo. Como todo brasileiro, sou pós-graduado em previsões e adivinhações. Naquela crônica eu já previa a crise decorrente do crescimento e disseminação urbana das motocicletas. Hoje, e passado pouco tempo, minha previsão está confirmada. Penso que por aqui a venda de motocicletas já supera a venda de automóveis. Isto é natural – afinal motocicletas são mais baratas, mais ao alcance financeiro da crise que estamos vivenciando. Servem a uma, no máximo duas pessoas, o que é normalmente a carga dos nossos automóveis e seus bancos traseiros desocupados. São mais rápidas, gastam menos combustível e, ágeis, costuram o trânsito no meio dos automóveis, ônibus e caminhões. Servem como transporte de aluguel a preços muito menores que os táxis; e para quem gosta de emoções são insuperáveis. Ou seja, motos ocupam desde já um lugar de destaque no transporte e no serviço urbano – e vão crescer mais ainda. Lembro-me do Aramisio, meu vaqueiro, quando motos ainda eram raras, barulhentas e malquistas. Ali na praça central de Veríssimo apareceu um galã moto-boy dando voltas e acelerações talvez em busca de alguma garota curiosa na garupa. Ali pela quinta volta o Aramisio e a turma da cerveja sossegada da esquina já estavam de saco cheio daquela invasão, e meu crioulo resolveu pôr tenência no assunto. Foi na garupa da mula, tirou seu laço fino e forte de couro de veado campeiro. Armou a volta em giro sobre a cabeça e quando o gostosão veio fervendo Aramisio soltou a laçada perfeita, como ele contou, e pegou a tal motocicleta pelos chifres. O laço esticou, a mula aguentou o coice e a moto encapotou com seu peão agora desmoralizado, sujo e retirante para Uberaba. Bem, mas isto foi distante e há muito. Hoje, haja laço, mula e Aramisio para darem corretivo nestas exibições imprudentes. Aqui motocicleta está igual correição de formiga; pessoas e automóveis que se cuidem. Contrariando suas vantagens e bondades, as motos ficaram velozes e imprudentes, avançam sinais, passam pela direita, costuram um trânsito que estão embaralhando. Em ruas movimentadas do comércio, e em certas horas, motos vão se tornando um problema que precisa ser pensado e resolvido – afinal, seus acidentes já estão além de quebrar braços e pernas, já estão matando e morrendo. É bom e necessário que o serviço de trânsito pense nas medidas para organizá-las. Criar ruas próprias preferenciais para seu uso, outras proibidas. Controle da velocidade, o exibicionismo e imprudência, documentação, capacitação. Eu não entendo por que os motoqueiros têm que correr mais que os automóveis, coisa que vejo todo dia nas minhas ruas. Confesso, desde o dia em que um folgado quebrou meu retrovisor e vazou no mundo, que tenho saudades do Aramisio. De carro ninguém alcança uma motocicleta, mas com o laço Aramisio podia ser um fiscal do seu trânsito. Taí, meus delegados, outra sugestã ponham Aramisios nas esquinas. Por respeito ou medo, a situação pode melhorar...

(*) médico e pecuarista

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por