Recentemente viajando pela Via Anhanguera, tive o prazer de ouvir novamente o belo CD do Grupo ChoroCultura, edição 2010. Desta vez, embalado pela sugestão do título, focalizei fundo a música “Muito mais que mãe”, cujo autor é o brilhante instrumentista Fausto Reis.
O choroso solo de cavaquinho do autor, acompanhado milimetricamente por Reinaldo (violão 7 cordas) e Baroni (pandeiro), faz contraponto com o saxofone tenor não menos harmonioso de Álvaro Augusto Walter. É difícil para quem, como eu, que tenho minha querida mãe só no plano metafísico, ouvir a criação de Fausto Reis. O cavaquinho sola e depois abre espaço ao sax, e este, imitando a voz humana em mi menor, parece confessar de coração pra coraçã “Mãe; se eu pudesse, o mundo inteiro eu lhe daria / E numa homenagem mais que sincera, todos os tributos a você eu renderia.” A música “Muito mais que mãe” ainda não tem letra, mas cada nota da sua melodia sugere um poema.
A exaltação de Fausto Reis à sua supergenitora Sra. Marialva Rocha Oliveira remete quem ouve “Muito mais que mãe” a uma profunda reflexão. Voltei ao tempo de criança e revi os treinos de seu Sílvio, meu vizinho, saxofonista que veio de Barretos para tocar no Jockey Club. Eu passava horas ouvindo-o em sua casa, mas, por circunstâncias, não fui além de um menino ouvinte. A música de Faustinho permite-me penitenciar hoje aos ouvidos de minha saudosa mãe por não ter me tornado um músico, como ela queria. Aí é que a lágrima rola toda vez que ouço a faixa 9.
Cada um terá sua emoção ao ouvir o último CD do Grupo ChoroCultura, mas diante da confissão melódica de Faustinho, tenho certeza; ninguém escapa a uma autoavaliação e lembrará que: no mundo há um ser universalmente chamado de mãe, por dar à luz os filhos. Para o superfilho, todavia, esse ser que lhe dá resplandecência não é simplesmente mãe, e sim “Muito mais que mãe.” Fausto Reis é esse superfilho.
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
