ARTICULISTAS

Mulheres ao volante

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 01/04/2014 às 12:07Atualizado em 19/12/2022 às 08:21
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Ela saiu do Bairro Jardins, SP, para vir morar em Uberaba. Como ela chegou aqui são outras histórias-crônicas. Ela é uma pessoa muito especial. Evódio a encontrou em Conceição das Alagoas, juntamente com a sua amiga Mônica. Elas foram de carro até aquela cidade para participar de uma solenidade de inaugurações. São amigas especiais, mães juvenis, adoram a vida, os amigos e não rejeitam uma boa prosa. Se o interlocutor não tiver assunto, não precisa se preocupar, elas logo o porão na roda das conversas. São mulheres que cuidam das crias, as lambem com o cuidado que todo bom filho merece.

Quando não merecem, o cuidado é maior. São mulheres do trabalho à casa, mas não abrem mão do lazer. Monica, se a gente pedir com jeitinho, até faz serenata, enquanto Cristina conhece as melhores culinárias. Quando Evódio as viu, foi logo pedindo uma carona de volta, porque tinha certeza de que os seus amigos iriam enrolar-se por aquelas bandas de lá e ele havia selecionado um filme para assistir mais tarde em casa.

Escolheu o filme, arrumou os acepipes, pôs o vinho para refrigerar, mas o celular tocou e foi a inauguração. Quando elas o chamaram para ir embora, ele mais do que depressa se apresentou. Foi aí que se deu conta de que retornaria em estrada sob o comando de uma mulher. Não tinha como recuar. Entraram no carro, ela arrumou o cabelo, se olhou novamente no espelho e escondeu os olhos por trás dos óculos escuros. Alertou-o de colocar o cinto, deu ré e rasgou as ruas e avenidas de Conceição das Alagoas. Monica, comunicativa por natureza, foi logo avisando que o carro não tinha ar-condicionado e nem aquele suporte que fica acima da porta, que todos chamam por um nome que não cabe na crônica.

Evódio, calado, pensando como seria aquela viagem com a loira de face sorridente e de prosa macia ao volante – sem preconceito com as loiras. Lá ao longe no horizonte, ele avistou um caminhão e pensou: “pronto, vamos até Uberaba, atrás dele ou levaremos horas na ultrapassagem”. O carro foi se aproximando e ela foi logo ultrapassando o caminhão e ainda buzinou para o caminhoneiro, que havia dado seta para ela ultrapassar. Pensou: “assim é fácil, caminhoneiro ajudando! Foi pensar e um conjunto de carros estava logo ali, depois da curva, feita sem tirar o pé do acelerador ou frear.

Ultrapassou um, ultrapassou outro e já estava rompendo à frente num verdadeiro festival de perícia ao volante e, principalmente, com segurança. Evódio nem se mexia. Não tinha onde se agarrar e o suor escorria sob a camisa, manchando-a. No entanto, aos poucos foi se relaxando e não se conteve em fazer as suas observações naquela tarde de sábado. “Que nada”, disse. “Faço isso praticamente todos os dias”, afirmou Cristina, sem tirar os olhos da estrada. “Carro para mim é como fogão, fácil demais. Mulheres são atenciosas ao volante e dirigem com segurança. Quando sabe, sabe mesmo”. Ela o deixou à porta de sua casa. Olhou novamente ao espelho, retocou o batom e disse: “Olha, eu corri porque não queria que os seus amigos me ultrapassassem”. Evódio não teve outra saída senão sorrir.

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