ARTICULISTAS

Mundo aberto

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 18/12/2020 às 19:15Atualizado em 19/12/2022 às 05:43
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A vida humana só tem sentido quando se torna dom de si mesma e encontra ressonância na vida do outro. Isso significa criar abertura para vínculos fortes de comunhão e fraternidade. Supõe relações praticadas com fidelidade, expressando o verdadeiro sentido do amor relacional. O egoísmo pode criar isolamento e transformar a pessoa numa verdadeira ilha, fazendo a morte prevalecer.

O ser humano tem uma identidade, que cresce no encontro e nas relações com o outro. Não são relações restritas, fechadas em si mesmas, com atitudes de autoproteção, mas abertas ao todo numa dimensão social e de preocupação com o mundo e com a natureza. Aí está o sentido de uma ampla hospitalidade, daquela que ultrapassa os limites do próprio grupo com abertura significativa para o outro.

Muitas virtudes, também no âmbito moral, estão presentes na vida das pessoas. Podemos citar a fortaleza, a sobriedade, a força para o trabalho, a temperança, o compromisso com a cidadania etc., mas todas devem ter um dinamismo de abertura e união no encontro com outras pessoas. A caridade deve ser um dado fundamental para que a prática das virtudes tenha dimensão de transcendência.

A experiência do amor proporciona fazer o bem para o outro de forma totalmente gratuita. Chamamos a isto de “caridade”, onde a pessoa passa a ser “cara” para a outra, preciosa, digna, aprazível, boa e estimada como um grande valor. Não importa sua aparência física ou moral, mas integrada num contexto social que não exclui ninguém, concretizando uma fraternidade aberta para todos.

Quem verdadeiramente ama, porque somos todos irmãos (cf. Mt 23,8), possui uma dinâmica especial de abertura para o valor da vida. Caso contrário, o isolamento mata, porque impossibilita a prática do serviço ao próximo. Na pandemia do coronavírus é exigido distanciamento, mas não significa fechamento. É mais uma atitude de caridade fraterna de defesa do outro para não ser contaminado.

 O racismo e a discriminação são feridas sempre presentes e ativas na vida da sociedade atual. No Brasil, o racismo deveria ter sido superado na abolição da escravatura em 13 de maio de 1888. A prática continua dificultando o exercício de um mundo aberto para todos. Muitos irmãos são tratados como corpos estranhos à sociedade, sem voz e sem vez, como idosos, deficientes etc.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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