ARTICULISTAS

Mundo fechado

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 30/10/2020 às 19:52Atualizado em 18/12/2022 às 10:43
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Existem hoje algumas sombras ou tendências que dificultam o trabalho da fraternidade universal. No passado, não muito distante, houve esforços de unidade entre os países, mas agora os sinais são de regressão. Observa-se o surgimento de novos conflitos que pareciam estar apagados e o surgimento de nacionalismos fechados e agressivos. Ideologias egoístas com marcas de interesses nacionais.

O mundo convive com conflitos locais e desinteresse pelo bem comum, instrumentalizados pela economia globalizada tentando impor um modelo cultural único. Não existem mais as distâncias, portanto somos todos vizinhos, mas não irmãos. É a cultura que privilegia os interesses individuais e fragiliza a dimensão comunitária da existência. O povo não deixa de ser consumidor e espectador.

O que aparece é a identidade dos mais fortes explorando pessoas e regiões fragilizadas e pobres. A globalização desvaloriza o passado, as riquezas da história e cria uma geração desenraizada, vazia, desconfiada e sem opções. São as novas formas de colonização da cultura, dissolvendo a consciência histórica e fragilizando o sentido das palavras democracia, liberdade, justiça e unidade.

No dizer do Papa Francisco, o sistema econômico mundial semeia desânimo, desconfiança para defender alguns de seus valores, suas estratégias de ridicularização, leva ao empobrecimento da sociedade e à prepotência de quem é mais forte. Sem a prática do bem comum, uns poucos acabam destruindo a maioria. É jogo de interesses onde vencer se torna sinônimo de destruir.

Cuidar do mundo é cuidar de nós mesmos, porque a casa é comum para todos. Mas esse cuidado não traz vantagens econômicas imediatas. Quem faz esse caminho é ridicularizado pelos afortunados, acumuladores e têm interesses particulares. O não cuidar da natureza leva ao esgotamento de recursos, à insensibilidade diante do desperdício e a criação de um cenário favorável para novas guerras.

Hoje as pessoas não são mais vistas como valor primário, às vezes até como objetos de descarte, como acontece com muitos idosos colocados em instituições, ficando abandonados pelas suas famílias. Os avanços da sociedade moderna não asseguram liberdade para as pessoas. O racismo está sempre reaparecendo como expressão de desigualdade social que já deveria ter sido superado.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.

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