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Muros

Há pouco tempo conversava com um jovem e ele tentava me explicar o que era...

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 11/06/2017 às 12:28Atualizado em 16/12/2022 às 12:45
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Há pouco tempo conversava com um jovem e ele tentava me explicar o que era “síndrome do pânico”, mal de que sofria. Era, segundo ele, um medo impalpável, vindo não se sabe de onde, coisa indefinível. Um pavor sufocante, terror de algo que poderia acontecer a qualquer hora. Enfim, ele não sabia definir nem medir. Era imponderável.

Hoje, não em tal profundidade, mas vai-se percebendo um medo generalizado, uma espécie de neurose defensiva, invadindo nosso interior. Por isso, vamos rodeando-nos de defesas, de artifícios de todos os tipos. Criamos uma ameaça pairando no ar. Um mal indefinido. Vamos, então, criando muros ao redor. É a civilização do muro.

Durante toda a História, o homem se nos apresenta construindo muros. Todos nós já vimos fotos da famosa Muralha Chinesa. Três séculos antes de Cristo, seis mil quilômetros de muros, uma das maravilhas do mundo. Construída para defesa. Medo de invasores. O medo gera o muro.

Na Idade Média, os castelos dos senhores feudais eram rodeados de fossos e altas muralhas. Temiam uns aos outros.

Ainda na Idade Média, os judeus eram segregados em setores, os guetos. Eram temidos e desprezados, por isso os acantonavam como precaução.

A partir da Segunda Grande Guerra, ficou famoso o muro de Berlim, separando a Europa ocidental da oriental, a democracia dos regimes discricionários, a liberdade da escravidão.

O estranho presidente dos Estados Unidos, Mr. Trump, andou sugerindo a construção de um muro nas fronteiras com o México. Medo da entrada de terroristas. Não sei em que viraram seus temores. Até hoje não sei por que motivos aquele ilustre senhor foi eleito presidente.

No Brasil, ao redor do bairro da Rocinha, estuda-se a possibilidade de construir um muro como proteção daquela gente contra o poder destruidor dos traficantes.

Cada vez mais os homens se defendem uns dos outros. Vamos nos tornando inimigos não declarados de nossos vizinhos. Criamos condomínios separados, quase indevassáveis. Cercamo-nos de redes elétricas e de toda uma parafernália eletrônica, para defender nossas posses e nossas vidas. Nossas janelas e portas são gradeadas. Não abrimos mais nossas portas sem nos certificar de quem está do lado de fora. Estamos cada vez mais trancados dentro de nossas casas e de nossos apartamentos. Sobretudo trancados dentro de nós mesmos. Qualquer barulho nos assusta. Qualquer pedinte é um salteador disfarçado. Sozinhos, não saímos mais à noite. O barulho de uma moto com dois motoqueiros nos deixa de sobreaviso. Um grupo de rapazes mal vestidos nos faz tremer. Estamos ficando neurotizados. Perdemos a tranquilidade de viver em paz. Somos seres assustados. Estamos levando nossas vidas curtindo nossos medos. Construímos muros ao redor de nossos medos e nossos terrores. Estamos criando um novo tipo de cultura, a cultura do muro.

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