A descoberta da consciência é a descoberta da pessoa. E a descoberta da pessoa implica outras descobertas. O homem é um ser de várias dimensões. Além de sua dimensão ética, ele possui uma dimensão social. O homem se destruiria a si mesmo no instante em que não quisesse levar em conta o outro. Ele se aniquilaria. Ele se reduziria à dimensão puramente animal no instante em que não admitisse a pluralidade das consciências e não reconhecesse o outro como sujeito.
O homem é responsável por si mesmo. Ele, porém, não é uma torre isolada num deserto. É feito para viver com os outros. Para “con-viver”. É um ser de relação. Não é uma relação unilateral, porque o outro não é uma “coisa”. É uma relação bilateral de desvendamento. De revelação. De diálogo.
A descoberta que fazemos do outro é muito importante para ele, mas é muito mais importante para nós. Não me refiro à descoberta do outro como objeto. A pessoa humana não pode ser reduzida a objeto. A pessoa humana tem uma “intimidade”. O outro é sempre um mistério para mim. Ora, um mistério não é um problema. Um problema se resolve, mas um mistério se desvenda, se revela. Daí que o outro não é um objeto de dissecação. O outro, seja quem for, é uma Pessoa Humana. É gente.
A intimidade de cada um de nós só é conhecida por Deus. Só Ele nos conhece. Só Ele nos pode julgar. Mais ninguém. Ninguém pode julgar as minhas intenções. Passamos a maior parte de nosso tempo comentando a vida dos outros. A fofoca se tornou uma instituição. O Evangelho é bem clar “Não julgueis e não sereis julgados”.
“Eu tirarei os meus olhos e os colocarei no lugar dos teus. Eu tirarei os teus olhos e os colocarei no lugar dos meus. Passarei a ver-te com os teus olhos e tu me verás com os meus olhos.” Os meus olhos não são sempre bons. Às vezes são maus. Com meus próprios olhos eu não conhecerei ninguém, apenas cometerei injustiças e mergulharei na escuridão. Mais uma vez, Jesus é muito clar “Se os seus olhos foram maus, o seu corpo todo ficará na escuridão. Assim, se a luz que você tem se transformar em escuridão, como será terrível essa escuridão!”.
E agora você passa a compreender que dialogar não é ver e apontar os defeitos dos outros. Dialogar não é falar. É, antes de tudo, ouvir. É ver os outros com os olhos dos outros.
Nesse ponto é fácil compreender as leis fundamentais do diálog admitir que os outros não pensam como eu. Admitir que, apesar do diálogo, o outros continuam a não pensar como eu. Admitir que, por causa do diálogo, eu mudo e não os outros.
O valor de um homem se mede não pela sua cultura. Não pela sua condição social. Muito menos por seu dinheiro. O valor de um homem se mede pela qualidade de seu relacionamento.
