Não sei escrever sobre política

Estamos na semana em que o Mensalão será julgado. Uma boa ocasião para desinfetar a área política. Não consigo acreditar que algo de positivo vai acontecer. A começar pelo Lula, todos serão declarados inocentes, vítimas da imprensa e coisas assim. Meu medo é esse. Como diziam os antigos: “Tudo continuará como dantes no Castelo de Dom Abrantes”. Faço votos de que esteja enganado. O sistema político brasileiro precisa urgentemente de uma reforma de base. Não se trata de remendos, de reforminhas. A reforma é de base. Tenho uma dúvida atroz, será que o Supremo Tribunal irá julgar com isenção? Terão coragem? Alguns deles não estariam mancomunados com a corrupção? Não consigo acreditar que esses acusados tomarão cadeia. Se fossem julgados com isenção, sem pressões de poderosos, talvez a justiça prevaleceria, mas não sei qual a concepção de justiça que esse grupo alimenta.

Não faz muito tempo, li uma noticiada prisão de uma jovem em São Paulo. Foi desse acontecimento que me lembrei. A empregada Ednalda Portela Júlio, 26 anos, ficou uma semana na cadeia por ter furtado um bombom nas Lojas Americanas. Afirmou que tinha tirado o bombom porque estava com fome. Ednalda foi liberada pelo Juiz da Primeira Vara Criminal, José Carlos Araújo, que a desobrigou de pagar a fiança de 500 reais. Segundo o Juiz, ela responderá a processo e se for condenada, poderá ficar de quatro a seis meses na prisão.

Diante do acontecimento, a pergunta que me intriga é esta: por que os pobres vão sempre para a cadeia? Por que são condenados aqueles que roubam um bombom para não morrer de fome? Por que são castigados os desempregados que se revoltam contra as injustiças, contra o aumento ridículo dos salários mínimos? Por favor, não estou inocentando ladrões e criminosos só porque são pobres. Não é isso. Não estou ideologizando a pobreza. Quem rouba merece castigo, é claro. Mas, por que só os pobres? Por que não são presos os políticos desonestos e corruptos que se enriquecem à custa do dinheiro público? Se esses Delúbios da vida não forem presos, o que pensar do Judiciário? O que pensar da Justiça? Votei no Lula, fiquei feliz com meu voto, pensei que, afinal, estava votando num homem que faria valer a justiça. Como me enganei! Na realidade, eu votei numa quadrilha.

Deixo aqui um conselho para você: “Se você tiver tendência para bandido, não roube um bombom, roube um milhão. Bombom dá cadeia...”.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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