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Na mão das máquinas

Estimado leitor, no início do século XXI, a Tyrel Corporation criou robôs virtualmente idênticos aos seres humanos. Eram chamados de replicantes

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 30/05/2010 às 13:19Atualizado em 20/12/2022 às 06:17
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Estimado leitor, no início do século XXI, a Tyrel Corporation criou robôs virtualmente idênticos aos seres humanos. Eram chamados de replicantes. Em sua versão mais avançada, eram tão inteligentes quanto os engenheiros que os criaram. Eles eram usados fora da Terra, em tarefas perigosas de colonização planetária. Após um motim, os replicantes foram declarados ilegais e policiais especiais, os Blade Runners, tinham ordens de atirar para matar qualquer um deles.

Esse é o principal argumento do excelente filme Blade Runner, o Caçador de Andróide, lançado em 1982, há quase trinta anos. Trata, na verdade, da discussão de velhas questões: as máquinas, um dia, dominarão o homem? Um dia seremos reféns de nossas criações? Seremos perseguidos pelos robôs ou nossa convivência será harmoniosa?

Na visão do diretor Ridley Scott, essa convivência pacífica não ocorre. Em 2019, momento em que a narrativa se desenrola, Rick Deckard (interpretado por Harison Ford), é um caçador de androides e tem a missão de destruí-los, deixando claro que os replicantes tinham a intenção de nos subjugar. A excelência do filme, a meu ver, não está exatamente em rediscutir esses problemas. O que mais me chama atenção é que as máquinas já chegaram ao comando de nossas vidas, e de uma maneira muito eficiente.

Veja o que aconteceu com um amigo. Ao tentar pagar uma simples conta num caixa eletrônico (uma máquina, portanto), teve o valor debitado duas vezes. Na primeira tentativa, uma frase escrita na tela do aparelho eletrônico dizia que a operação não havia sido concluída. Tentou novamente, obtendo êxito dessa vez. Entrementes, ao olhar seu extrato, percebeu o equívoco cometido pela máquina. Como o estabelecimento àquela hora já estava fechado, voltou no dia seguinte e explicou o ocorrido. Pensava que a solução seria rápida, bastando que o valor excedente fosse estornado para sua conta. Ledo engano.

Ouviu do funcionário que essa era uma operação impossível de acontecer. Devido às normas de segurança, o banco não tinha autorização para retornar o dinheiro, uma vez que não havia ninguém autorizado a fazer tal manobra. Devia esse meu amigo procurar a instituição credora e, quem sabe, ela poderia devolver-lhe o valor pago a mais.

Dirigiu-se para lá imediatamente, já não tão seguro do desfecho do imbróglio. Chegando ao órgão que expediu o boleto, foi informado de que, também por medidas de segurança, não havia nenhum funcionário autorizado a mexer em alguma máquina que pudesse pôr fim àquela querela.

Veja que engraçado. É preciso evitar que as máquinas falhem. E, para isso, medidas de segurança cada vez mais sofisticadas estão sendo tomadas. Uma delas é evitar o contato com mãos humanas, uma vez que nós, humanos, também falhamos.

Daqui decorre uma situação, para dizer o mínimo, surreal: em nome das medidas de segurança, damos cada vez mais autonomia às maquinas, deixando que elas pensem e tomem decisões sozinhas. Quando menos elas dependerem do homem, melhor. O problema é que quando falham, não encontramos mecanismos para corrigir o erro, pois, em nome da segurança, não existe nada que reverta o processo.

Diga, sinceramente, se já não estamos nas mãos das máquinas há algum tempo? Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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