Conheci uma senhora mãe, com os seus 80 anos
Conheci uma senhora mãe, com os seus 80 anos ou mais. Em seu quarto, sentada na beira de sua cama, chorava inconsolavelmente porque seu filho pela manhã havia sido internado nas pressas da urgência. Naquela ansiedade, nada lhe fazia acalmar. Aguardava a chegada do médico que o atendia. Como todas as mães, se desmanchava em lágrimas mesmo antes das informações. Finalmente às 18 horas, aquele esperado adentrou o quarto. Assim que o viu, levantou-se e de mãos postas como se estivesse orando, aquela mãe pálida, trêmula e aflita, lhe perguntou sobre o seu filho. Com voz um tanto embargada, lhe respondeu que lamentavelmente não havia conseguido salva-lo. Assim que ela ouviu a expressão lamentavelmente, se despencou em choro pelo resto daquela tarde. Varou a noite toda, o dia seguinte e sua noite, amanhecendo em choro seguido, sem que nada lhe levasse a tranquilidade. O tempo naturalmente foi distanciando aquele momento. Mesmo assim, ainda chorava e não mais era como antes. Sempre de cabeça baixa, demais entristecida, quase nada mais conversava. Também eu, não como pai e sim como filho e irmão, já passei por esses momentos doloridos. Fico pensando, por que há de nos ser assim? Por que é preciso fazer aqueles que ficam, chorar, chorar, chorar? Ao criar o tempo para modificar e amenizar as coisas, simplesmente enganou-se o Criador com a SAUDADE. Não imaginava por certo, que esse momento nos fosse tão dolorido e, a cada dia mais se avolumando dentro de nós, nos leva a interrogar se essa forma de nos retornar a espiritualidade não é demais primária ante a Sua sabedoria? Quando daqueles que se foram, o nosso coração transbordando saudades soluça, também os deles porque, “A saudade mora nos dois mundos.” Ainda bem, que é mentirosa essa distância que deles nos separa. Sempre quando podem, estão juntos de nós conversando conosco. Se a nossa sensibilidade sem evolução não os percebe e nem os escuta, à noite após as suas tarefas porque trabalham, em sonhos, voltam a estar conosco. Quando o tempo que lhes é legado para esse momento se inspira, partem céleres obedientes à lei do Onipotente. Quando assim repentinamente se vão nos deixando, parece ser a razão desconexa de como ficam certos sonhos que com eles temos—mas, sempre voltam a manter conosco a sensação do convívio familiar. Um dia, que beleza!... Lá estaremos nos revendo. Essa é a esperança que enxuga as nossas lágrimas e abranda a nossa dor. Enquanto deles assim ficamos a nos recordar, o que nos conforta é buscar mesmo que em soluços, o consolo na verdade da “Oração da Serenidade.” “Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras.”
(*) Manoel Marta@ Hotmail.com