“Pela tampa se conhece o jacá.” Quanta verdade no adágio. Também a nossa apresentação como (tampa), fala de nós, (jacás). Em tudo estamos refletidos. O quadro de um pintor é o pintor refletido em sua tela. O livro de um escritor é o próprio se fazendo transparecer em suas ideias e em cada frase. Lá fora, pelos seus refletidos, as criaturas se transparecem. Aquela criatura gorda por certo, padece de algum problema endócrino, ou simplesmente de um desmedido sedentarismo. Aquele todo musculoso, logo se o percebe ser um praticante de exercícios com pesos (halteres). Aquele outro, maltrapilho, descalço, sujo, vagando sem rumo e sem ponto para chegar, expressa uma alma cumprindo o seu destino. Aquele que engoma e estica para cima os seus cabelos, copia o horrível gosto de seu ídolo. A indumentária é um cartão de identificação. A farda, diz ser um militar. O jaleco branco por vezes, um profissional da saúde. O short naquela moça reflete seu desejo de mostrar suas pernas bem feitas. Aquele cantor da velha guarda que sempre em seu programado no final de cada ano se apresenta de terno branco e de tênis ao invés dos sapatos, claramente deixa refletir o seu desejo de impressionar que ainda é moço sem as coisas da idade. Tudo em nós reflete o que somos. Até mesmo quando falamos, revelamos nossa timidez, nossa situação de momento, nosso temperamento, nossa cultura. Alguns demonstram seus horríveis hábitos ou cacoetes de apoio com Aí, Né, Tá, Entendeu? Escutamos por vezes esses cacoetes em conversas: —“Olha minha amiga! O problema da violência, invade nossa casa através da tevê, Tá? Um horror... Ai, o bandido mata tantos, até aqueles sem motivos, Né?. A tevê mostrando essas coisas, acaba sendo um mau exemplo, Entendeu? A linguagem revela todos tanto pra lá como pra cá. Um paciente simples vai ao médico. O doutor examina. O paciente aflito pergunta:—“E dai doutor, o que o senhor me diz?”— Bem, responde o doutor. “O senhor está acometido de uma enorme disfunção gastrointestinal, com descontrole enzimático, o que pode ter sido ocasionado por bactérias Coli não patogênicas.—“Nossa, doutor!... E agora?”— “Agora, eu vou receitar para o senhor, um remédio à base de levedo de Saccharomyces boulardii- 17-50mg, que resiste bem à ação dos sucos gástrico, entérico e pancreático, bem como à ação da bile.”—“Tá, doutor...Compreendi... Vou tomar direitinho e se Deus quiser, vou sarar.” Nada mais será preciso para deixar refletido o que é aquela criatura dos Tá, dos Aí, Né, Entendeu, como também do doutor que se deixa refletir com suas expressões científicas fora do momento, quando mais simples seria dizer ao paciente que seu problema era Diarréia. Tudo em nós de fato, fala o que somos. O intimo de alguns se transparece em seu humor cíclico, ora cumprimentando, ora desconhecendo, em sua indumentária propositalmente desbotada com remendos ensejando ornamento, por seu espalhafatoso corte dos cabelos, por seus tênis ou sapatos sujos, por seu veículo descuidado. Em tudo nos refletimos. Por sermos seres humanos, somos todos iguais—e, quem sabe, nos diferenciando uns dos outros apenas e tão só, Naquilo que nos reflete?
(*) manoel_ marta@hotmail.com