Hoje é Dia dos Namorados e ainda me lembro da nossa primeira comemoração juntos como um casal. Ela, de saia não tão longa, que não despertasse curiosidade, e também não tão curta, que se tornasse vulnerável. Eu, todo nervoso, sem saber com o que presenteá-la. Até então, mal sabíamos que iríamos caminhar juntos, lado a lado, por tanto tempo. Hoje, quando paro pra pensar, parece-me que passou rápido demais e que pouco foi feito, mas, apesar dos pesares, caminhamos juntos. Quando a conheci, senti o seu olhar e custei a acreditar que ele fosse para mim. Mais tarde, nós nos vimos novamente e hoje sempre a vejo, às vezes, até demais. Hoje, estamos juntos sem querermos o extravagante que não seja a extravagância do tempo que temos juntos. No entanto, há aqueles que, por enquanto, não encontraram um pé para pisar, para ser esquentado... Há também aqueles que encontraram, mas que não puderam, por razões invisíveis, manter-se juntos. Caminhar é bom demais ao lado de quem se ama, ao lado de alguém com quem se pode contar, segurar a mão, deliciar-se com os seus beijos e estremecer ao olhar um para o outro. Quando a pele dela roça na minha, eu fico assim e os ares transubstanciam em pensamentos de desejos. Começou antes de começarmos e decidirmos que valeria a pena uma caminhada juntos; até porque sabemos que todo sentimento tem o seu tempo, a sua intensidade e o seu jeito de expressar. Mesmo assim, optamos por arriscar. Não seria justo arrastar para um canto da sala interna o que se queria na varanda, à vista de todos. Queríamos mostrar o nosso amor para todo mundo. Então, começamos uma dança que já dura um tempo. Este dia de hoje é muito especial para nós. É o único dia que é nosso, que depende exclusivamente de nós e que mais ninguém participa dele, somente eu e você. Não é como o Dia das Mães, que é dos filhos; Natal, que é da família cristã; aniversários, que são de todos os amigos quando se presenteia a vida. É o Dia dos Namorados, é o dia dos casais. É meu e seu. Unicamente de quem namora. Independe do conceito de casal, sendo umbilicalmente ligado ao afeto, ao amor incondicional, à paixão que alimenta o bem-estar porque estão juntos. Se não houver a revalidação da entrega, perde-se na convivência. Namorar é se encantar com o outro simplesmente por ele se fazer presente em sua vida. Ambos validam a convivência, embora saibamos que o redemoinho da convivência nos engole e nos arrasta para cantos opostos. Então, é preciso namorar e se encantar e se permitir e se deliciar. Vivenciar o olhar e beijar de olhos fechados, saboreando-se enquanto os pelos se eriçam em poros abertos e arrepiados. Que ao brigarem, o rancor não exista, a vingança não prospere e a indiferença não perdure. Ao contrário, é preferível não ter ninguém. A mão deve acalentar e não se tornar arma que extermina o outro, que massacra a existência e reduz o outro a um sentimento de impotência, de perda, de invalidez sentimental. A boca deve beijar e não se tornar acusatória dos desencontros até que tudo se torna turvo e sem explicação. Que o Dia dos Namorados, então, deixe-nos propensos ao reencontro do que queremos e que ainda não perdemos.
(*) Professor