Uma das manias do idoso é gabar-se de que nos seus tempos de juventude “as coisas não eram assim”. Mas, que coisas? Em todas as idades há coisas boas e coisas ruins. Coisas positivas e coisas negativas. O importante é que eu tenha uma mente bastante aberta para que, com sabedoria, eu saiba separar o bom do mau. O feio do bonito. Há aspectos que caracterizam os tempos atuais. Por exempl o medo. Medo de quê? Do câncer. Do Alzheimer. Dos assaltantes. Dos drogados. Medo de andar sozinhos. Medo da noite. Cercamos nossas com casas com redes elétricas, com câmeras eletrônicas, com telas de arame farpado.
Nosso medo não é mais de morrer, é de viver. Estamos nos defendendo do improvável, do imponderável que nos alerta por dentro. Nós nos sentimos ameaçados, mas não sabemos por quem nem por quê. É uma angústia indefinível. É o drama daquele personagem de Kafka que estava sendo preso e não sabia por que motivo. Passa todo o tempo procurando defender-se de uma culpa que ignora, diante de um juiz que desconhece, num ambiente confuso e imponderável.
O pior medo, porém, é o que brota de nossos conflitos interiores. De nossas carências afetivas, De processos inconscientes. Nós nos sentimos ameaçados e nem sabemos onde se encontra o perigo. Não sabemos como nos livrar dele. Montamos um bem elaborado mecanismo de defesa. Criamos uma aperfeiçoadíssima autocensura. Medimos nossos passos, nossas palavras, nossos pensamentos.
Assim vamos vivendo. Vamos nos desgastando. Nos neurotizando. Velando sobre nossas insônias e acariciando nossas úlceras. Cada dia temos menos tempo. Há sempre o que fazer e depressa. Nós nos tornamos assustados, agressivos, irritados, impacientes. Não toleramos os motoristas atrasados, buzinamos e dizemos palavrões.
Nem sequer vemos os pássaros voando e as flores que enfeitam nossos jardins.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro