Estou aqui em casa, a noite é de chuva fina e silenciosa – detesto fugir para a televisão, seus noticiários e novelas de sacanagem explícita. Escrevo sem pressa umas contas a pagar, coisa que cabe à Daça acertar na volta das férias. Está frio mesmo, por fora e na solidão por dentro. Ponho um dedo de whisky no copo, umas pedras de gelo, penso nos solitários iguais que estarão tomando seu dedo de pinga. Tudo igual entre nós, o que vale é aquele calor na ideia solitária. Penso até que somos iguais, porque solidão é uma irmandade nesta noite sem ninguém. O relógio passou das nove, eu pens tenho que comer alguma coisa, estômago chora se tiver que dormir zerado. Vou à geladeira (agora já dois a zero no pobre!) e assunto lá dentro. Tem uma sobra de pizza de ontem, oba! E tem uma fatia de mussarela com presunto, três a zero no pobre... Bem, não sei manejar as coisas (um gol pro pobre!), conheço uma frigideira, nela coloco um pão velho aberto para a mussarela, um pouco de manteiga dura, dou um jeito de abrir o gás e acendê-lo, até aqui vou bem. A sobra da pizza ponho no micro-ondas (outro gol no pobre!) e ligo o calor mal e mal, desconheço as manhas desta máquina. Maravilha, digo log o pão com mussarela está pipocando, um cheiro gostoso ao ambiente. Abro o micro-ondas, e jogo a pizza velha com o queijo novo num prato largo. Aí é pegar faca ruim (nisto o pobre ganha) e um garfo (empatamos!) e comer depressa, que no frio o sanduiche inventado logo se acaba. Imagin está gostoso, João da vida, de fome você não morre mais! E logo um sentiment é certo, mas você está sozinho, chove e faz frio. Por que não está comigo aquele companheiro pobre? Pelo menos a gente poderia comer conversando, a solidão ou as mágoas permutando... Mas Deus vigia, se estiver ocupado me manda a Virgem Maria... e tudo estará salvo...
(*) Médico e pecuarista